Há quatro meses do crime que vitimou dois professores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em Mato Castelhano, a comunidade ainda aguarda por respostas. Com um suspeito preso, o inquérito não foi finalizado, e Polícia Civil ainda tenta confirmar a identidade do segundo assaltante que rendeu os hóspedes do Hotel Romanttei, na madrugada de 25 de julho.
Naquele dia, um grupo de 15 estudantes e três professores do curso de Engenharia Florestal da UFSM faziam uma visita de campo à Floresta Nacional de Passo Fundo. As vítimas, Fabiano de Oliveira Fortes, 46 anos, e Felipe Turchetto, 35, chegaram no hotel enquanto o assalto acontecia, e foram mortos a tiros após reagirem ao crime, como apontou a investigação.
Dois suspeitos foram presos três dias após ocorrido, mas apenas um deles segue detido. O outro foi solto depois que a 3ª Vara Criminal da Justiça revogou a prisão. A decisão ocorreu após a polícia encontrar um vídeo de câmera de monitoramento que mostrava o suspeito em Passo Fundo na data do crime.
Sem novidades públicas quanto à investigação, quem era próximo das vítimas anseia por respostas. Para Daniela Motta, esposa de Fabiano, ainda é difícil aceitar o que aconteceu e conviver com o vazio deixado pelo marido:
— É bem difícil aceitar o que aconteceu, porque foi um pesadelo. É um crime que não da para ficar impune. São dois homens, professores, que estavam exercendo sua profissão e tiveram as vidas ceifadas. Até agora não tivemos um retorno disso, e nos leva a ficar preocupados. Como que as pessoas que cometeram isso não vão ser pegas?
Na universidade, foi oferecido apoio psicológico aos alunos que estavam junto na viagem ao norte gaúcho. O clima, que foi de dor e sofrimento no início, tem sido substituído pela saudade dos professores, como comenta a coordenadora do curso de Engenharia Florestal da UFSM, Josita Soares Monteiro:
— Vivemos momentos de dor e sofrimento muito intensos no início, e para quem estava junto ainda é muito difícil. Os professores têm sido muito atentos e compreensíveis ao tempo dos alunos. Essa dor agora vai sendo substituída pela saudade, tentaremos lembrar deles pelos seus legados, e o quanto nos fazem falta.
Viagem era tradição no curso
Fabiano Fortes era professor da UFSM desde novembro de 2008. Já Felipe Turchetto havia sido transferido no começo do ano do campus de Frederico Westphalen. Ambos foram estudantes de graduação e pós-graduação na UFSM.
A viagem que faziam era parte das atividades da disciplina que dividiram, de Práticas Florestais. Apesar de não ser obrigatória, era muito procurada pelos alunos justamente por ter muita parte prática, como a desenvolvida em Passo Fundo. Foi Fabiano que deu essa “cara” para a disciplina, e a retomou com mais força, conforme Josita.
Naquele julho, a coordenadora Josita lembra o esforço que Fabiano fez para que a viagem saísse, uma vez que havia vários percalços que pareciam impedir a realização da parte prática:
— Parecia que não era pra viagem sair, tivemos problema com a disponibilidade do ônibus, e havia uma coincidência de datas com uma banca de trabalho que o professor avaliaria. Mas para não deixar os alunos sem viagem, o Fabiano fez todo um empenho e eles foram.
A esposa relembra dele realizar esse tipo de atividade com os estudantes, porque defendia a formação com experiência na floresta.
— O Fabiano tinha muito amor por essa viagem, defendia que era muito importante os alunos terem experiências de pôr em prática seus estudos. Defendia que os alunos tinham que sair da faculdade tendo vivência florestal. Era uma viagem que ele se importava muito — comenta Daniela.
A investigação
A investigação do caso é de responsabilidade do delegado Diogo Ferreira, da Delegacia de Polícia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) de Passo Fundo. Contatado pela reportagem, informou que não pode comentar sobre o andamento da investigação. Apenas que o trabalho tem avançado, e que a polícia segue realizando diligências. Não há prazo para conclusão do inquérito.
O que se sabe até agora
Informações da investigação que foram divulgadas pela Polícia Civil à época apontam que os dois assaltantes se hospedaram no hotel um dia antes do crime, em 24 de julho. O check-in foi feito com dados falsos. No local não havia câmeras nem registro digital de hóspedes.
O assalto foi anunciado no saguão do estabelecimento, por volta de 1h30min do dia 25. A dona do hotel e clientes foram rendidos e levados para um cômodo do hotel. Os assaltantes chegaram a forçar a proprietária a fazer transferências por Pix, mas nenhuma foi efetivada. Eles revistaram as vítimas e tiraram pertences como joias e celulares.
Os professores teriam chegado ao hotel quando o assalto já estava em andamento, e foram rendidos. Um deles teria reagido e entrado em luta corporal com um dos suspeitos, que estava armado. Em resposta, o assaltante efetuou de três a quatro disparos. Foi quando a segunda vítima, ao ver a situação, também tentou reagir e foi baleada. Os demais se esconderam enquanto os assaltantes fugiram levando joias e telefones.
Fabiano e Felipe morreram no local. Conforme o comando regional da Brigada Militar, o posto da BM que fica ao lado do hotel estava vazio e a polícia só foi chamada 30 minutos após a ocorrência.