A exigência de uma dose única na imunização contra o vírus do papiloma humano (HPV), que passou a valer em março, fez com que Passo Fundo batesse a meta de vacinar 80% das meninas de nove a 14 anos, estipulada pelo Ministério da Saúde. Na cidade, 81,6% desse público foi imunizado até 2023, conforme dados publicados em janeiro deste ano pela Secretaria Estadual de Saúde (SES).
A imunização única dose passou a valer depois que o Ministério da Saúde adotou a recomendação de estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização Pan-americana da Saúde (Opas), que concluíram que uma dose protege igualmente à duas ou três aplicações.
A estratégia também aumenta a adesão à vacina, uma vez que a maioria não retornava para tomar a segunda dose, como era o caso de Passo Fundo. Antes da atualização, a cobertura da segunda dose ficava abaixo do esperado, deixando a cidade abaixo da média de vacinação.
No município, apenas 58,2% das meninas retornaram para aplicar a segunda dose da vacina em 2023. A adesão é menor entre a população masculina: 62,4% dos meninos tomaram a primeira dose e 35,8% concluíram o esquema vacinal antes da exigência da dose única. No RS, 80,2% das meninas receberam a primeira dose e 60,5% completaram a imunização. Entre os meninos, a cobertura é de 58,1% para primeira dose e 35,8% na segunda.
A falta de cobertura completa dos grupos tem uma justificativa clara: a desinformação e os tabus envolta da vacina e do vírus. Segundo a médica ginecologista e obstetra Laura Zanella Caús, o fato da transmissão do vírus ocorrer principalmente através de relações sexuais leva muitos pais a acreditarem que a vacina estimularia a vida sexual das crianças e adolescentes.
— A gente deve vacinar as crianças, de preferência aos nove anos, porque há uma maior chance de ela ter uma resposta imunológica completa, fazendo com que tenha menor chance de desenvolver câncer de colo de útero nas meninas ou de pênis nos meninos, e que ambos fiquem transmitindo o vírus — explica a médica.
O que é o vírus e como age a vacina
O HPV é um vírus transmitido sexualmente quando há contato com pele ou mucosa infectada. Alguns subtipos causam verrugas e lesões enquanto outras podem causar tumores no colo do útero, anus, pênis e garganta. Em todos, há cura com tratamentos e a vacina é a forma de prevenção mais efetiva.
— A maioria dos cânceres não tem prevenção, apenas mudando hábitos de vida. Mas esses (causados pelo HPV) são altamente previsíveis, fáceis de rastrear e prevenir, através da vacina. Então por que não dar esse benefício para seu filho? — questiona a médica.
Na rede pública, o SUS garante a vacina para meninas de nove a 14 anos e imunossuprimidos. O público infantil e adolescente foi escolhido para que o sistema imunológico esteja completo antes de começar a idade sexual, dando ao organismo a capacidade de responder melhor à exposição ao vírus.
— Nessa idade, eles nunca tiveram contato com o vírus e vão desenvolver uma resposta imunológica com a vacina. Assim que tiverem contato com o vírus, estarão protegidos — explica a ginecologista.
Por isso, a Secretaria de Saúde de Passo Fundo trabalha em conjunto com a rede de ensino para incentivar a vacinação em idade escolar. No momento da matrícula e rematrícula, as instituições pedem o atestado de vacinação e informam os pais sobre a necessidade de atualização do esquema vacinal, o que inclui a vacina contra a HPV (saiba onde vacinar abaixo).
— A vacina é extremamente importante e estamos tentando fortalecer a adesão. Caso os pais não apresentem esse atestado na hora da matrícula, a escola deve comunicar o Conselho Tutelar, que tenta entrar em contato com a família. Se não consegue, podem comunicar o Ministério Público — informa a coordenadora de Vigilância em Saúde, Marisa Zanatta.
Onde vacinar em Passo Fundo
Em março, uma normativa publicada pelo Ministério da Saúde orientou que os estados e municípios façam uma busca ativa dos jovens de até 19 anos que não receberam nenhuma dose do imunizante para que possam atualizar a vacinação pelo SUS.
Maiores de 20 anos, mesmo que fora do público que recebe a vacina de graça, podem tomar a vacina na rede privada. A indicação é de que qualquer pessoa, até 45 anos, tome a dose. Em Passo Fundo, os valores da dose nonavalente variam entre R$ 950 e R$ 994.
— Para essas pessoas a resposta imune pode ser diferente, pois eles podem ter iniciado a vida sexual. Se já estiverem expostos, a vacina não vai tratar o vírus, mas vai prevenir contaminação de outros tipos, por isto segue sendo indicado — aponta a médica.
A vacina está disponível na rede básica de saúde de Passo Fundo. Os horários de atendimento podem ser consultados através do site da prefeitura. Um deles atende em horários alternativos: o Cais Fragomeni funciona das 8h até as 21h30min de segunda a sexta-feira, e aos sábados, domingos e feriados, das 8h às 20h.
No próximo sábado (13), a secretaria organiza um Dia D de vacinação contra a influenza, onde as unidades terão horário especial, e também poderá vacinar contra a HPV. Todas as unidades estarão abertas das 8h às 17h, sem fechar ao meio-dia.
Podem se vacinar de forma gratuita pelo SUS:
- Meninas e meninos de 9 a 14 anos
- Pessoas de 9 a 45 anos em condições clínicas especiais, como as que vivem com HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes oncológicos (imunossuprimidos)
- Vítimas de abuso sexual
- Pessoas portadoras de papilomatose respiratória recorrente (PPR)