Após um ano inédito no quadro de dengue em Passo Fundo, com 872 casos confirmados e três óbitos pela doença, 2024 inicia com 13 casos em investigação no município. A incidência é de 6,4 notificações a cada 100 mil habitantes, conforme dados da Secretaria Estadual da Saúde.
Nesta semana, agentes de endemia visitaram em torno de 3 mil imóveis para realizar o Levantamento Rápido de Índices para o Aedes aegypti (LIRAa). O intuito é identificar qual o nível de infestação do mosquito na cidade. O último levantamento, feito em outubro, mostrava que três em cada 200 residências tinham foco do agente.
— A maior preocupação é do final de fevereiro a maio, época de pico dos casos. Quem está viajando também pode ter ido para uma área endêmica e trazer o vírus da doença, disseminando na cidade. Por isso, seguimos fazendo visita nos imóveis e campanhas de conscientização — afirma a chefe do Núcleo de Vigilância Ambiental, Ivânia Silvestrin.
Conforme Ivânia, um dos maiores problemas enfrentados pelos agentes de endemia é o acesso às residências. Muitos moradores não autorizam a entrada por desconfiança ou receio de serem multados. Mas a especialista esclarece que essa ideia é equivocada:
— O agente não está lá para punir ninguém. Ele vai orientar, vistoriar e auxiliar no combate ao mosquito. Por isso, é preciso recebê-lo. Eles estão sempre identificados. Além da presença dos agentes, também temos carro som passando nas ruas, com instruções de prevenção.
A Vigilância Ambiental teve reforço no número de agentes: passou de 30 para 52 funcionários. A metodologia de vistoria segue protocolo do Ministério da Saúde. São sorteados quarteirões em cada bairro e, neles, 20% dos imóveis recebem visitas para que se tenha uma amostragem da situação por região.
Vanete Fátima Lang é agente há sete anos e conta que nunca viu um ano tão crítico para a doença como 2023, o que reforça ainda mais a importância do trabalho. No entanto, enfrenta situações difíceis no exercício da função.
— Hoje de manhã eu achei que ia apanhar, a moradora começou a derrubar os vasos porque eu achei larva. Eu tentei explicar que era só encher de terra, ou areia, mas ela não quis ouvir. Fui embora, isso nunca tinha me acontecido — relatou.
Bairros que preocupam
Conforme o último LIRAa, todos os bairros do município tinham focos do mosquito. No entanto, cinco deles têm a maior concentração de Aedes aegypti: Petrópolis, São Cristóvão, Boqueirão, Roselândia e São José.
A reportagem acompanhou, nesta sexta-feira (12), parte da visitação para a execução do levantamento no bairro São José. Terrenos baldios com garrafas plásticas, residências com pneus abandonados e vasos de plantas com água acumulada foram observados com frequência, assim como larvas de mosquito.
— Nós coletamos essas larvas e fazemos a análise em laboratório aqui na cidade mesmo, para identificar se as larvas são do Aedes aegypti ou do mosquito comum. Quando encontramos, damos um prazo de uma semana ou 15 dias e voltamos para ver se o problema foi resolvido — explica Vanete.
Se no retorno do agente a questão não estiver solucionada, ele é notificado formalmente, mas ainda ganha um novo prazo para resolução. Caso o problema persista, recebe multa que varia de R$ 300 a R$ 3 mil, dependendo da gravidade da situação.