Com taxa de 8,29 óbitos por mil nascidos vivos, Passo Fundo atingiu em 2020 o menor número de mortalidade infantil em cinco anos, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O número representa 23 óbitos de menores de um ano, dentre os 2.779 nascidos vivos na cidade. Antes disso, o menor número havia sido registrado em 2015, com taxa de mortalidade 8.21, sendo 24 mortes e 2.925 nascidos.
A redução segue a tendência de uma política pública na cidade: o programa Meu Bebê Meu Tesouro, criado em 2013 com ações para fortalecer a saúde dos recém-nascidos.
Até então, os índices de mortalidade infantil na cidade eram oscilantes: em 2008, por exemplo, a média era de 14.84 óbitos de bebês a cada mil crianças de até um ano. Em 2010, o número caiu para 7.69, voltando a crescer em 2012, quando 13 recém-nascidos morriam a cada mil.
A partir de 2014, quando começaram os atendimentos, a oscilação reduziu. O maior número de óbitos foi em 2019 e, o menor, em 2016. Veja no gráfico:
Passo Fundo fica abaixo da média de mortalidade infantil do Rio Grande do Sul, que registrou 8.64 óbitos de bebês a cada mil em 2020, segundo o mesmo levantamento do IBGE.
Também está abaixo de Novo Hamburgo (9,23) e Rio Grande (8.75), cidades de porte semelhante, e muito atrás de Erechim (14,5) e a cidade catarinense de Chapecó (11,05). Ao mesmo tempo, porém, apresenta números acima das cidades gaúchas de Santa Maria e São Leopoldo, que registraram 7,61 e 6,86 óbitos de recém-nascidos em cada mil, respectivamente.
Combate institucionalizado à mortalidade infantil
Desde sua implementação, o programa Meu Bebê Meu Tesouro já atendeu mais de 4 mil pessoas, sendo 510 apenas em 2023. Na terça-feira (22), a iniciativa entregou 30 kits de maternidade em ação no bairro Cidade Nova. Esse é um dos braços da ação, que oferece benecífios às gestantes que realizam o pré-natal pelo Sistema Único de Saúde (SUS) — uma forma de incentivar o pré-natal e acompanhamento de saúde necessário após o nascimento do bebê.
— É uma forma de qualificar o pré-natal e a saúde do bebê, pois todos os benefícios são oferecidos apenas para quem faz as consultas e está dentro da rede — disse a coordenadora do programa, Fernanda Lazzaretti.
Para o futuro, o Meu Bebê Meu Tesouro deve passar por expansão para as demais frentes básicas do município, apoiando o desenvolvimento das crianças nas demais esferas, como explica o prefeito Pedro Almeida:
— A gente vê os números reduzindo, o que significa que o programa é um sucesso. Nosso desafio agora é que ele deixe de ser da área da saúde e passe a ser da assistência social e educação, ingressando na formação após os nove meses de gestação.
Como funciona
Para ter direito aos benefícios do Meu Bebê Meu Tesouro, as mães precisam ser encaminhadas das Unidades Básicas de Saúde até a central do programa.
Antes do nascimento do bebê, as gestantes que realizarem pelo menos seis consultas de pré-natal pelo SUS recebem um kit para saída da maternidade com banheira, roupinhas, cobertas e itens e higiene básica para os primeiros dias do recém-nascido.
— Nas gestantes com chance de parto prematuro, também fazemos a aplicação de um medicamento que amadurece o desenvolvimento dos pulmões dos bebês, conforme orientação médica — afirmou Lazzaretti.
Desde junho, o programa também passou a oferecer transporte para a saída da maternidade, teste do pezinho e aplicação da vacina BCG. Por meio de um “vale táxi”, a prefeitura disponibiliza descolamento gratuito das residências até os órgãos de saúde.
Também são oferecidas cestas básicas nos três primeiros meses da criança, que são retiradas mediante apresentação da certidão de nascimento. Neste ano, até o mês de julho, foram entregues mais de 1,1 mil cestas.
— No momento da retirada das cestas nós oferecemos um planejamento familiar, de educação e instrução da saúde da mulher e bebê. Também auxiliamos na inserção aos métodos contraceptivos disponíveis pelo SUS — salientou a coordenadora.
Quem já se beneficiou
Uma das beneficiadas, Adriana Dias Rosa, 41 anos, é mãe de três filhos e aguarda a chegada de Ravi. Com 37 semanas de gestação, ela conta que o kit recebido será fundamental para os primeiros dias do filho.
— Muitas mães estão desempregadas e as coisas estão muito caras, muitas até são mães solo, então o programa ajuda muito. Eu não vou precisar gastar com várias coisas que já ganhei aqui. Para mim está sendo ótimo.
Há dez anos, a primeira mãe a ser beneficiada, Jenifer Machado Sampaio, 33 anos, relembra a importância de receber o apoio. Na época, ela estava desempregada e descobriu a gestação aos três meses, o que demandou um maior apoio psicológico e de saúde para ela e a bebê.
— O programa foi fundamental para mim. Já tinha dois filhos de seis e oito anos, mas a Natali veio esse tempo depois. Minha gravidez era de risco, então precisei deste suporte e acompanhamento da rede, foi muito bom mesmo — conta Jenifer.
Ela participou de oficinas e acompanhamento de cuidado para a filha e instruções de amamentação. A primeira bebê do programa cresceu saudável e completou 10 anos no último dia 17.