O Hospital Dia da Criança (HDC), de Passo Fundo, encerrou o mês de julho com um aumento no tempo de espera para a transferência de pacientes graves aos dois hospitais de maior complexidade do munícipio. Em alguns casos, o tempo de hospitalização chegou a 72 horas.
Essa situação é incomum e ultrapassa a capacidade do local, visto que a unidade serve como pronto-atendimento de urgência e emergência, e não setor de internação infantil. Segundo definições do Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers), o HDC não deveria manter uma criança na instituição por mais de 24 horas.
Conforme a instituição municipal, o motivo da dificuldade na transferência dos pacientes de alta complexidade é a superlotação das emergências das duas principais unidades hospitalares de Passo Fundo, o Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) e o Hospital de Clínicas (HC).
Por isso, as equipes do HDC precisaram modificar parte da estrutura. Quatro leitos de observação para pacientes com problemas respiratórios, três para pacientes não-respiratórios e seis cadeiras de medicação foram adaptados para fins de internação.
O período mais crítico dos atendimentos, segundo a coordenadora técnica do HDC, Caroline Barbiero, ocorreu na segunda quinzena de julho, quando a unidade ficou sem espaço para receber novos pacientes.
— Pacientes graves que precisam não só de um manejo agudo, mas sim de uma internação, seja em leito de enfermaria ou UTI, estão sendo atendidos pela nossa equipe e acabam ficando por aqui. Nós não conseguimos a transferência por que os hospitais de alta complexidade não têm leitos para recebê-los — disse.
Aumenta o tempo de espera
Só em julho, o HDC realizou 2,6 mil atendimentos. Desses, 90% tinham relação com doenças respiratórias. As mais comuns são bronquiolite, asma, broncopneumonia e alergias respiratórias.
O que chama a atenção, também, é que 57% dos casos eram considerados não urgentes e apenas 13% graves. Isso, segundo Barbiero, acarreta em tempo de espera maior, além de sobrecarga de trabalho.
A vendedora Marceli Marques viveu essa situação no último sábado (30), quando levou o filho Mateus, de seis anos, para uma consulta. O menino estava com tosse e secreção há 10 dias.
— Não temos previsão do tempo de espera, mas pela quantidade de criança que tem lá dentro sei que vai demorar, pelo visto a tarde toda. É complicado, mas vamos fazer o quê? — desabafou.
A orientação é que pessoas com sintomas leves procurem os serviços de saúde da rede de atenção primária e evitem ir até unidades de emergência. O HDC atende a casos de alta complexidade, mas com o intuito de estabilizar o paciente e, em seguida, transferi-lo para outro local com mais recursos.
Situação das emergências
No HC, a emergência opera acima da capacidade, com 173% de ocupação. Nesta quarta-feira (2), a unidade estava com 34 pacientes internados e seis em observação. O local comporta 23 pacientes internados. Contudo, o hospital diz que atende todos os casos sem restrições.
Já no HSVP, a emergência opera em 140% da capacidade, conforme nota divulgada. A instituição informou que segue operando com restrição de atendimentos por causa da superlotação. A nota ainda diz que, neste momento, todos os recursos humanos e materiais disponíveis estão mobilizados para o cuidado dos pacientes que já estão no setor.
"Além disso, seguem sendo recebidos na Emergência casos graves ou muito graves. Reforçamos à população que, em casos não urgentes ou pouco urgentes, procure os demais hospitais ou outras unidades de saúde da cidade. O Hospital segue trabalhando ao máximo para garantir a manutenção do serviço até que a situação seja normalizada", diz a nota.
Por causa da superlotação, o Executivo protocolou um projeto de lei na Câmara de Vereadores que garante o repasse de R$ 150 mil mensais para cada hospital da cidade por período de 12 meses. Ao todo, o valor é de R$ 3,6 milhões.
Na justificativa, a prefeitura afirma que o repasse tem como objetivo agilizar a prestação dos serviços de pronto atendimento no âmbito do SUS, garantindo a diminuição da espera dos pacientes pelas consultas e a manutenção dos atendimentos.