Por Nadja Hartmann, jornalista
Passado o Carnaval e com o início oficial do ano, a tendência é que o cenário político-eleitoral comece a se delinear mais claramente nos municípios. Não que tenham acontecido grandes avanços nos bastidores, mas porque devem começar a ser conhecidos os primeiros resultados das pesquisas encomendadas pelos partidos. E os números destas pesquisas são mais importantes do que qualquer proposta de governo, ideais ou vontade política.
Eles podem justificar as decisões mais inusitadas e as alianças mais improváveis. Funcionam quase que uma prévia das eleições. Podem ser feitas apenas com nomes internos ou também podem testar nomes adversários. Podem medir aprovação e, principalmente, rejeição e podem, inclusive, derrubar potenciais pré-candidatos. E quando feitas com a metodologia necessária, podem até acertar...
Consumo interno
De acordo com o calendário eleitoral, desde 1º de janeiro está aberto o prazo para registro de pesquisas junto ao TSE. Porém, como o registro só é necessário no caso de divulgação dos resultados, ainda não há nenhuma pesquisa cadastrada para Passo Fundo.
Fonte ouvida por esta coluna relatou que, em levantamento de preços feito recentemente com empresas do setor, o valor de uma pesquisa quantitativa com 700 entrevistas é de aproximadamente R$ 10 mil. O preço sobe conforme aumenta o universo de eleitores pesquisados e, assim, diminui a margem de erro.
Ter uma prévia da posição dos eleitores é tão importante que nas eleições de 2020, apenas um candidato à majoritária gastou mais de R$ 57 mil em pesquisas, segundo consta na prestação de contas apresentada à Justiça Eleitoral.
Retrospecto
Enquanto não se tem o resultado das pesquisas, se tem o retrospecto das últimas eleições, o que pode ajudar a desenhar alguma tendência no cenário. Afinal, as urnas falam e deixam recados importantes nas entrelinhas... Vale lembrar que em 2020 foram sete candidatos à prefeito, o que dificilmente deve se repetir este ano, e não exatamente em nome da união, mas pela falta de dinheiro para bancar candidaturas-solo...
Com o grande número de candidaturas nas eleições passadas, a diferença entre o vencedor, Pedro Almeida, eleito com 40.194 votos, do segundo lugar, Márcio Patussi, que fez 30.098 votos, foi de 9.286 votos (se o leitor sentiu falta da sigla ao lado do nome, é porque ambos já mudaram de partido).
Para se ter uma ideia, na eleição de 2016, com cinco candidatos, a diferença entre o prefeito eleito Luciano Azevedo e o segundo colocado, Osvaldo Gomes (PP), foi de mais de 65.500 votos. O senso comum na política prega que quanto maior o número de candidaturas, melhor para o candidato da situação, já que neutraliza a polarização... Será?
Perguntas que não querem calar
Em 2020, os dois primeiros colocados fizeram 71 mil votos, 40 mil a mais que os outros cinco candidatos juntos. Ou seja, a pulverização de candidaturas provocou uma distância e tanto no ranking... Porém, é preciso destacar também que em 2020, o segundo candidato que fez mais votos (Márcio Patussi), contava com a força e a tradição de um partido ainda forte na época, o PDT.
Dizem que jornalista é pago para trazer respostas e não perguntas para os leitores. Portanto, trago reflexões em forma de perguntas que não querem calar: o caminhão de votos feitos por Patussi em 2020 eram dele ou do PDT? E se forem dele, será possível transferir para um partido de direita, caso ele seja o candidato do PL? E o PDT, será que conseguirá superar nas urnas o ostracismo que vem enfrentando em nível nacional?
Influências
Mas há mais perguntas de milhões neste cenário... Qual deve ser o impacto dos investimentos do governo Eduardo Leite em Passo Fundo, já que em 2020, durante o primeiro mandato, o candidato do PSDB, Lucas Cidade, ficou em quarto lugar com menos de 9 mil votos no município?
Parte desta resposta pode estar na eleição mais recente, de 2022, quando Eduardo Leite venceu Ônix Lorenzoni (PL), com 56,82% dos votos... Aliás, a eleição de 2022 nos leva a outras perguntas de milhões, que é saber a influência de Bolsonaro e a capacidade de transferência dos 66.922 votos conquistados no segundo turno em 2020 e a influência local dos programas sociais já implementados pelo governo Lula...
Com a palavra
Outras perguntas cujas respostas podem ser determinantes para o futuro político de Passo Fundo são:
- Será que a esquerda aprendeu a lição das últimas eleições e finalmente deixará as diferenças de lado vindo unida em torno de apenas uma majoritária este ano?
- Como um governo que tentará se manter no poder pelo quarto mandato consecutivo irá convencer os eleitores que não se trata apenas de continuidade?
- E esta questão nos leva a última, mas não menos importante pergunta:qual a capacidade de transferência de votos do deputado Luciano Azevedo (PSD) ao atual prefeito Pedro Almeida (PSD)?
Com a palavra: as urnas!
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