Por Nadja Hartmann, jornalista
Após analisar o recado das urnas de 2020 no cenário político eleitoral de Passo Fundo, vale lembrarmos de alguns recados e lições deixadas pelas urnas em outro dos maiores colégios eleitorais da região: o município de Carazinho, com 47.119 eleitores.
Considerada uma eleição histórica, as urnas de 2020 no município foram marcadas por dois fatos inéditos: a reeleição de um prefeito Milton Schmitz (MDB) e a eleição da primeira vice-prefeita, Valéska Walber (MDB). Mas não só isso, uma vez que também de forma inédita, foi eleita uma majoritária “puro-sangue”, formada por apenas um partido.
Após ter eleito o prefeito com mais de 70% dos votos em 2016, quando veio em uma dobradinha com o PP, o MDB se sentiu confiante e legitimado para um voo solo. Porém, o desgaste natural de quatro anos de gestão se mostrou implacável, sendo que as urnas em 2020 reduziram consideravelmente a distância entre Milton Schmitz e o segundo colocado, João Pedro Azevedo, do PSDB, que fez 42,51% dos votos, com uma diferença de apenas 4mil votos.
Os percentuais dos dois candidatos também revelaram uma eleição marcada pela polarização. Mesmo com cinco candidaturas, os outros três candidatos juntos fizeram apenas 5% dos votos.
Lição para o MDB
Porém, uma das principais lições que as urnas de 2020 podem ter ensinado ao MDB é que um governo “puro-sangue” não resulta, necessariamente, em um partido fortalecido. Muito pelo contrário... Chegando ao último ano de mandato, o MDB não construiu um nome forte o suficiente para garantir a cabeça de uma majoritária e teve que abrir mão para o PP, que, aliás, foi seu adversário em 2016.
Além disso, perdeu a vice-prefeita Valeska Walber, que recentemente pediu desligamento do partido. Assim, após ter vindo na cabeça em 2016 e com uma chapa puro-sangue em 2020, o MDB deve vir em outubro na posição de coadjuvante, com o vereador Márcio Guarapa como candidato à vice-prefeito em uma chapa liderada pelo vereador do PP, Daniel Weber.
Aliás, ao que parece o PP pode ter sido o fiel da balança nas duas últimas eleições. Resta saber se o novo PP, sem lideranças tradicionais como o ex-prefeito Aylton Magalhães (agora União Brasil), continuará sendo o fiel da balança em uma eleição...
Espaço da mulher
Outro recado deixado pelas urnas de 2020 em Carazinho é que uma mulher pode, sim, ocupar uma posição de importância em uma majoritária, como candidata à vice, mas infelizmente não pode assumir um protagonismo nos espaços do partido, o que nos leva a questionar até que ponto o MDB estava preparado para ter uma mulher como vice-prefeita, ou melhor até que ponto as lideranças políticas em geral estão preparadas para o protagonismo feminino... A resposta desta pergunta pode estar na Carta Aberta divulgada pela vice-prefeita Valéska Walber, onde ela atribui a sua saída à falta de apoio das lideranças do MDB...
Neutralidade
Chama atenção que a coligação formada pela oposição em 2020 reuniu, além do PSDB e PP, partidos que neste ano tem muitas poucas chances de aparecerem juntos nas coligações pelo país, como o PDT e o PL. Com o acirramento em nível nacional, há grandes possibilidades de Carazinho repetir um cenário que também poderá ser visto em Passo Fundo, com os partidos de direita se apresentando como uma “terceira via”...
Por isso mesmo, assim como em Passo Fundo, em Carazinho há uma grande preocupação dos partidos em formarem alianças que possam ser apresentadas com neutralidade ideológica, nem muito à direita e nem muito à esquerda... Tanto que a aliança da situação em Carazinho deve unir siglas de centro como o MDB, de centro-direita como o PP e de centro-esquerda, o PSB. Já a aliança da oposição, virá com um partido de centro, o PSDB, de centro-direita, o União Brasil e de centro-esquerda, o PDT.
Oposição
Com a situação com o martelo praticamente batido para a majoritária, a oposição em Carazinho ainda mantém aberta a posição de candidato à vice na dobradinha com o ex-vereador João Pedro Azevedo (PSDB). Uma das possibilidades é chamar o União Brasil para a majoritária, com o ex-vereador Anselmo Britzke, o Gauchinho, mas também há conversas bem avançadas com o Republicanos.
Segundo o deputado Ronaldo Nogueira, o partido não deve abrir mão de participar de uma majoritária em Carazinho. Um dos nomes cotados pra vice é do empresário Josué Prestes, que vem conduzindo a reestruturação do partido no município, mas segundo ele, outras duas possibilidades estão sendo estudadas, a partir de duas novas filiações que o partido vem trabalhando: do ex-vereador tucano Gilnei Jarré e da vice-prefeita Valéska Walber.
Porém, ao contrário de Passo Fundo, onde a direita deve vir unida, em Carazinho o PL deve vir com o PRTB, em uma majoritária liderada pelo vereador Adriano Strack. Já a esquerda, deve vir unida com PT, Psol e PCdoB.
Entre em contato com a colunista pelo e-mail: nhartmann@upf.br