As eleições de outubro trazem um desafio para a maior bancada feminina já eleita na Câmara de Passo Fundo. As quatro vereadoras possuem a missão de quebrar com uma tradição histórica do município de nunca ter reeleito uma mulher. Para isso, elas podem contar com dois fatores: as 80.920 eleitoras passo-fundenses, o que equivale a 54% do eleitorado e a legislação eleitoral que este ano vem com ainda mais incentivos às mulheres. O TSE divulgou na última quinta-feira (4) as minutas prévias das regras das eleições de outubro. Entre as novidades, está a obrigatoriedade dos partidos respeitarem o percentual mínimo de 30% na distribuição dos recursos e do tempo de propaganda no rádio e TV para mulheres. Esta nova regra somada à cota de gênero nas nominatas e na distribuição do fundo eleitoral pode ser mais um fator encorajador para mais mulheres submeterem seus nomes às urnas.
Vereadoras de um mandato
...Mas como demonstram as estatísticas, só a legislação não basta. Verdade que os avanços são incontestáveis. Passo Fundo, por exemplo, que até 2020, só tinha eleito sete vereadoras na sua história, nas últimas eleições, elegeu quatro mulheres, rompendo, inclusive um hiato de nenhuma representante feminina na legislatura anterior. Porém, chama atenção que até hoje nenhuma mulher se reelegeu na Câmara de Passo Fundo... As mulheres eleitas para um mandato só foram Olga Poleto, em 1955, Thereza Almeida e Linda Sarturi, em 1969, Heloísa Helena, em 1977, Lurdes Canelles, em 1995, Zelinda Tomas, em 2000 e Claudia Furlanetto, em 2012. Por outro lado, quando se trata de vereadores, a tradição é justamente o contrário, com alto índice de reeleição.
Desafio
A expectativa é se esta tradição vai se quebrar este ano, já que a princípio Ada Munaretto (PL), Eva Lorenzato (PT), Janaína Portella (MDB) e Regina Costa (PDT) são candidatas à reeleição. Outra expectativa é se o número de vereadoras irá aumentar, até porque quatro mulheres em um universo de 21 vagas, ainda está muito longe de qualquer margem de equiparação, principalmente se formos levar em conta o fato de que 54% dos eleitores de Passo Fundo são mulheres, índice, inclusive, superior ao eleitorado feminino no país, que é 52,7%. Apesar disso, a Câmara de Passo Fundo nunca foi presidida por uma mulher...
Sub-representação
Apesar do senso comum insistir em responsabilizar as próprias mulheres, teimando em repetir o clichê de que “mulher não vota em mulher”, sabe-se que a origem do problema da sub-representação feminina na política está nos partidos que só lembram de valorizar as mulheres na hora do sufoco para fechar a cota nas nominatas, lançando muitas vezes, candidaturas laranjas. Prova disso é que nas últimas eleições municipais, 40 nomes de mulheres lançados pelos partidos fizeram menos que 50 votos em Passo Fundo. Este ano, os incentivos na legislação devem levar a um aumento nas candidaturas femininas. Porém, vai depender dos partidos torná-las efetivamente viáveis ou não...
Falta de visibilidade
Se a realidade no legislativo não é das mais promissoras, no Executivo é ainda pior. Ao contrário de muitos municípios da região, com eleitorado feminino proporcionalmente até inferior, Passo Fundo nunca elegeu uma prefeita ou vice-prefeita, e ao que tudo indica não será nestas eleições que esta tradição será quebrada, já que a maioria dos partidos até agora não sinalizou com nenhum nome feminino para as majoritárias. Talvez isso se explique em parte pela ausência de mulheres em espaços de grande visibilidade tanto no setor público como na sociedade civil organizada do município. No atual secretariado do governo, por exemplo, são apenas três mulheres e quinze homens. Além disso, apesar delas estarem no comando de inúmeras empresas e instituições, como a UPF, por exemplo, também não há mulheres na presidência das principais entidades de classe de Passo Fundo...