Por Nadja Hartmann, jornalista
A dança de cadeiras acionada pelo governador Eduardo Leite em nome de ampliar a margem de votos da base na Assembleia deve obriga-lo a cortar na própria carne. É que, para acomodar o Republicanos, com Carlos Gomes na secretaria de Habitação e Regularização Fundiária, ele terá que desacomodar o União Brasil, que hoje ocupa a pasta, com o secretário Fabrício Peruchin.
Porém, como não tem lugar para todo mundo no primeiro escalão, é o seu partido que será sacrificado. Na verdade, um dos seus mais fiel escudeiro... Mateus Wesp deve deixar a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos e ir para a equipe de gabinete do governador.
Mateus recebeu a notícia na tarde de segunda-feira (6), quando ainda estava em Passo Fundo, por um telefonema do governador Eduardo Leite, que o chamou para uma reunião no Piratini na manhã desta terça-feira (7).
Soldado do partido
Fontes que estavam ao lado de Wesp na hora do telefonema relatam que ouviram o momento que o governador agradeceu enfaticamente o secretário pelo trabalho realizado junto à pasta e principalmente pela compreensão quanto ao seu desligamento.
Aliás, quando tomou a decisão, Leite sabia que como “soldado do partido”, Wesp não demonstraria nenhum tipo de resistência ou insatisfação... Em passado recente, ele já deu provas do seu apoio quase que incondicional ao governador ao defender com “unhas e dentes” a Reforma Administrativa na Assembleia, o que pode ter custado a sua reeleição.
Além disso, ao passar a fazer parte da equipe de gabinete, Wesp volta a atuar na área que já demonstrou grande capacidade quando foi líder do governo na Assembleia e relator do orçamento por quatro anos, que é a articulação política... Em contato com esta coluna, Wesp reiterou a necessidade de reforçar a articulação política junto à base para projetos importantes.
— Fui convocado para essa missão, que envolve também, a inserção de novos partidos no governo e readequação de outras siglas que já fazem parte da base — afirmou.
Respeito
Mateus Wesp deixa a secretaria depois de quase dois anos à frente da pasta, período que ele conseguiu superar as resistências dos movimentos sociais que, na época da sua nomeação, no início do governo, manifestaram grande insatisfação em função de algumas posições tomadas por ele no passado quando foi vereador em Passo Fundo, principalmente em relação a questões de gênero.
Porém, com um trabalho bastante voltado às minorias, aos jovens em vulnerabilidade social e mulheres vítimas de violência, Wesp acabou conquistando o respeito de lideranças da luta pelos direitos humanos no RS. No entanto, a mesma polêmica que Leite enfrentou ao nomear Wesp, ele pode voltar a enfrentar agora ao nomear para a pasta um representante do União Brasil, partido mais alinhado à direita e que já demonstrou grande conservadorismo ao se posicionar sobre a pauta de costumes...
Tabuleiro das eleições
Para Passo Fundo, o fato de perder um secretário no governo Leite não deve trazer grandes prejuízos, já que Wesp estará na antessala do governador, com grande trânsito junto às demais secretarias, o que pode, inclusive, aumentar o seu peso político.
Por outro lado, a saída dele da secretaria pode alterar o tabuleiro das eleições municipais, o trazendo de volta para o páreo da majoritária. Mesmo que nunca tenha descartado totalmente a possibilidade de ser candidato, sabia-se que dificilmente ele deixaria a secretaria para concorrer, ainda mais em uma posição de candidato à vice, que deve ser o papel que irá caber ao PSDB depois que o partido ingressou no governo Pedro Almeida.
Porém, ao sair do primeiro escalão do governo, as prioridades de Wesp podem passar a ser outras. Aliás, dizem que a possibilidade da candidatura em Passo Fundo foi um dos critérios utilizados por Leite para tomar a decisão. O retorno de Wesp ao cenário eleitoral também alteraria os planos do PSDB que já marcou até a data para filiação de Saul Spinelli (PSB), que deve acontecer em março, tornando-o o nome do partido para 2024.
Cargos do PSDB
Ainda falando em PSDB, após duas semanas do anúncio oficial do ingresso no governo Pedro Almeida, o partido já tem pelo menos dois nomes que devem ser confirmados para o primeiro escalão. Diego Radaelli será indicado para a presidência da Codepas, cargo que ficou vago há cerca de um mês, com a saída de Aislan de Freitas.
Radaelli tem experiência em gestão, em especial, na área da saúde, onde atuou no Hospital Municipal, Hospital de Clínicas e Unimed. Além da Codepas, o PSDB ainda deve ganhar a Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Rural, uma vez que o já secretário Cristiam Thans está para se filiar ao partido.
Segundo ele, as conversas nesse sentido estão bem adiantadas e anúncio deve ser oficializado em breve pelo partido e pelo prefeito Pedro Almeida. Mas os espaços do PSDB no governo não devem se limitar a estes dois cargos. Provavelmente o partido ganhará mais uma secretaria — que não deve ser a de Saúde — e outros cargos de segundo e terceiro escalão.
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