Por Nadja Hartmann, jornalista
Depois de meses de “paquera”, avanços e recuos, aconteceu o que já vinha sendo anunciado como iminente por esta coluna. O anúncio do prefeito Pedro Almeida que nomeou o vereador Luizinho Valendorf, do PSDB, como seu vice-líder do governo na Câmara sela o ingresso dos tucanos no governo.
A decisão foi tomada em uma reunião na última sexta-feira (20), chamada pelo prefeito, e que contou com a presença de lideranças dos dois partidos, e inclusive, do secretário Mateus Wesp e do deputado Luciano Azevedo.
Segundo o presidente do partido, Rodrigo Borba, o anúncio oficial do casamento deve ocorrer nos próximos dias após algumas decisões que envolvem a “governança”, o que segundo ele, não significa cargos... Porém, seria ingenuidade acreditar que o PSDB irá entrar no governo sem assumir espaços e até mesmo um certo protagonismo, que pode ser a Secretaria da Saúde e do Interior, além da presidência da Codepas.
Mas também estão na mesa para um futuro próximo, as secretarias de Obras e Esportes, que irão ficar vagas daqui a poucos meses em função da desincompatibilização dos atuais titulares que saem para concorrer.
Nomes
Ou seja, espaço para acomodar o PSDB no governo não falta... O que falta, porém, são nomes que podem ser indicados pelo partido para ocupar os cargos, em especial, a Secretaria da Saúde, que há mais de seis meses é ocupada interinamente pelo vice-prefeito João Pedro Nunes.
Um dos principais quadros do PSDB em Passo Fundo, o coronel Volnei Ceolin ocupa hoje a direção de Planejamento e Integração da secretaria de Segurança em Porto Alegre. Bastante próximo do secretário Mateus Wesp e com experiência de gestão, seria uma carta na manga dos tucanos. Além dele, outra possibilidade é o nome do atual presidente do partido, Rodrigo Borba, que também poderia assumir um dos cargos...
Escolha de Sofia
A dificuldade que o PSDB pode estar encontrando para indicar nomes dentro dos quadros do partido para compor o governo faz parte do mesmo dilema que o partido deve enfrentar para indicar o nome do candidato à vice na chapa de Pedro Almeida.
O convite para que o vereador Saul Spinelli ingresse no ninho tucano continua de pé, segundo o presidente do partido, porém, Saul já adiantou para esta coluna que só sai do PSB se for para concorrer em uma majoritária. O problema é que o nome dele encontra algumas resistências no “núcleo duro” do PSD, fato que nem ele mesmo nega...
Aliás, a foto abaixo, tirada durante homenagem em Porto Alegre, quando Saul recebeu o título de Embaixador da Luta contra o Câncer no Planalto Médio, pode ser um indício da “escolha de Sofia” que o vereador terá que fazer dentro de alguns meses: entre o PSB de Beto Albuquerque e o PSDB, de Mateus Wesp, para onde ir?
Casamento
Utilizando da analogia do casamento, apesar da efemeridade cada vez maior das relações, também seria ingenuidade pensar que o PSDB aceitaria o pedido de casamento hoje para entrar sozinho na igreja ou mesmo com outro noivo daqui a menos de um ano.
Não faz nenhum sentido entrar no governo agora para ser oposição no ano que vem, como também não faz sentido um partido que tem um projeto nacional para 2026, com a candidatura de Eduardo Leite para o Planalto, aceitar nada menos do que o protagonismo de uma majoritária em 2024...
“Ficantes”
Mesmo que a lógica insista em escancarar o óbvio, lideranças do PSDB negam que uma coisa leva a outra, ou seja, que o casamento de hoje represente o casamento para as urnas em 2024. O secretário Mateus Wesp, inclusive, evitar falar em casamento. Segundo ele, na evolução entre namoro, noivado e casamento, o PSDB e o PSD ainda estão no estágio anterior quando se trata de eleições municipais.
— Estamos ficando, mas digamos que passamos de ficantes eventuais para ficantes fixos — disse Wesp, complementando que os dois partidos podem estar juntos em um casamento em 2024, mas isso ainda não está definido, até porque depende de outros envolvidos nesta relação, como o PSDB estadual...
Ou seja, também está na mesa a eleição de 2026 — e “quiçá” a de 2028 — e não só para os tucanos...
Aproximações
Saindo da analogia das relações e indo para a política, Wesp reitera que a aproximação administrativa entre o PSDB e o governo Pedro já estava consolidada através de inúmeros projetos que vinham sendo desenvolvidos entre a atual gestão e o governo Eduardo Leite, inclusive, segundo ele, com o gesto do governador de nomear Danrlei de Deus (PSD) como secretário de Esportes, abrindo espaço para que Luciano Azevedo assumisse a cadeira de deputado federal.
Porém, agora essa aproximação passa a ser também de cunho político. Assim como o presidente do partido, o secretário também nega que o PSDB esteja negociando cargos.
— Diferente de outros partidos, nós não precisamos de cargos na administração municipal porque temos o Governo do Estado — garantiu Wesp.
Azedou...
Mesmo ambos fazendo parte do mesmo grupo de oposição, não é de hoje que a relação entre a vereadora Eva Valéria Lorenzato (PT) e Rodinei Candeia (Republicanos) está longe de ser harmônica. Com diferenças ideológicas importantes, o único ponto em comum entre os dois, além de ser oposição ao governo Pedro Almeida, é ambos os partidos que representam comporem o governo Lula...
Porém, o fato do Republicanos ocupar hoje o Ministério de Portos e Aeroportos, não constrange em nada o vereador Candeia de fazer duras críticas ao PT. E “como não há nada tão ruim que não possa piorar”, na sessão da última segunda-feira (23), a relação entre os dois azedou de vez.
A tentativa de Candeia de interromper o pronunciamento da vereadora Eva sobre a guerra entre Israel e Faixa de Gaza foi chamada de desrespeitosa pela vereadora, que acusou o colega de “ignorante”. O clima ficou tão tenso que o vereador Nharam Carvalho (União Brasil), que presidia a sessão, foi obrigado a interromper os trabalhos até que os ânimos se acalmassem.
A vereadora recebeu a solidariedade de colegas, como Regina Costa (PDT) e Rufa Soldá (PP), além do próprio Nharam que repreendeu publicamente Candeia por não respeitar o regimento interno...
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