Passados quase quatro meses desde o deslizamento que interditou 25 residências do bairro Manoel Portela, em Passo Fundo, no norte do RS, a situação dos moradores segue sem solução. A maioria retornou às casas mesmo o local sendo considerado de risco.
Conforme a Defesa Civil, as moradias ficam em área irregular. Todas foram interditadas após a área ceder em 18 de novembro devido às fortes chuvas que atingiram a região. À época, a prefeitura ofereceu abrigo para as famílias afetadas. Porém, a maioria optou por morar em casas de parentes, onde viviam desde então.
Cansado de aguardar uma solução, Jorge de Oliveira, 67 anos, voltou para casa depois que passou a ter dificuldades para pagar o aluguel e outras contas em outra parte da cidade. Segundo ele, o prejuízo passa dos R$ 3 mil.
— Não tinha mais condições de pagar aluguel. Isso já extrapolou o nosso limite e ainda foram mais três meses na casa dos outros. Luz e água continuavam chegando — disse.
Ledanir Loss da Rosa, 67, também foi uma das moradoras que retornou. Ela mora há pelo menos 40 anos na casa que fica à beira do buraco:
— Hoje não tenho mais medo. No primeiro dia eu tinha, mas agora tem que se conformar, né? Só que ainda ficou o trauma da chuva. Quando começa, a gente já fica: será que vai cair mais?
A dona de casa vive com o marido, Hélio da Rosa, 80, que é cadeirante. O filho do casal improvisou uma ponte para que ele pudesse chegar em casa. Uma verdadeira “batalha”, segundo ela.
— Jamais imaginamos que isso fosse acontecer com a gente. Agora só aguardamos uma solução do poder público.
Relembre o caso
Em novembro, a prefeitura de Passo Fundo apresentou uma proposta para realocar os moradores em uma área no bairro Donária. Cada família receberia um terreno correspondente a 125 metros quadrados para construírem as moradias. Treze delas aceitaram a proposta. Os demais reivindicam até hoje que uma obra fosse feita no local para garantir a segurança e que todos pudessem retornar para suas casas.
Porém, a Secretaria de Habitação voltou atrás. A área do bairro Donária não seria viável em razão de questões envolvendo a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam). Em entrevista a GZH Passo Fundo, o secretário Wilson Lill disse que uma outra área já estava “bem encaminhada”, onde estariam 10 famílias.
Sobre a obra de contenção no local reivindicada pelos moradores que não aceitaram a proposta, Lill afirmou que uma licitação está sendo encaminhada com o objetivo de contratar uma empresa especializada para analisar a possibilidade de obras no local e o custo. Somente após isso será tomada uma decisão sobre o local.
O que dizem a prefeitura e a Defesa Civil
Em contato com GZH Passo Fundo, a Defesa Civil de Passo Fundo informou que a área segue interditada, mas não pode impedir que os moradores voltem às casas. As famílias serão informadas novamente sobre os riscos do local e solicitadas que deixem a área.
A reportagem entrou em contato com a prefeitura sobre o andamento da licitação das obras e o destino das famílias, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. Foi informado apenas que uma reunião está marcada sobre o assunto nesta sexta-feira (8).