A Arquidiocese de Passo Fundo, no norte gaúcho, está com um edital aberto em busca de notícias que possam validar o processo de beatificação do Monsenhor João Benvegnú, popular na comunidade e região de São Domingos do Sul, onde viveu por 51 anos.
As "notícias" a que se refere o edital são fatos que possam deduzir elementos favoráveis à fama de santidade de Benvegnú, como milagres. A comunidade católica local atribui a ele episódios de cura de doentes e o reconhece como um santo. Por isso, todos os anos milhares de pessoas prestam suas homenagens ao pároco na tradicional Romaria de João Benvengú, no norte gaúcho. Em 2023, cerca de 50 mil pessoas participaram da peregrinação.
Com os relatos milagrosos em mãos, começa uma investigação para aferir se o antigo padre de São Domingos do Sul deve se tornar um santo oficialmente perante a Igreja Católica — processo conhecido como beatificação, a nível local, e canonização, a nível universal.
Segundo o edital, Benvegnú morreu com "reputação de santidade" e os sinais sobre esse aspecto cresceram após sua morte, em janeiro de 1986, aos 79 anos. O processo de beatificação teve início em dezembro de 2011, quando o então bispo de Passo Fundo, Dom Pedro Ercílio Simon, aceitou o pedido para a "investigação arquidiocesana sobre a vida, virtudes heroicas, reputação de santidade e sinais do Servo de Deus Monsenhor João Benvegnú", como consta no documento oficial.
"Para levar a causa de beatificação e canonização ao conhecimento da comunidade eclesial e do Povo de Deus em geral, convidamos todos os fiéis a comunicar diretamente ou enviar ao Tribunal Interdiocesano estabelecido na cúria da Arquidiocese de Passo Fundo", afirma a publicação.
O edital fica aberto até 15 de fevereiro de 2024. No período, está fixado no site da Arquidiocese e nos murais de oito paróquias da região de São Domingos do Sul (leia o documento completo neste link). O texto também pede que as pessoas que tenham escritos de Benvegnú, como diários e cartas, entreguem esses materiais à Igreja.
Quem é João Benvegnú
Filho de imigrantes italianos, João Benvegnú nasceu em 12 de agosto de 1907 na área onde hoje é o município de São Valentim do Sul, na Serra Gaúcha. Quando adolescente, entrou para o seminário dos Passionistas, em Pinto Bandeira, e começou a sua preparação para tornar-se padre em 1922, em Porto Alegre. Sua ordenação como sacerdote aconteceu 12 anos depois, em setembro de 1934.
No ano seguinte, em 1935, João Benvegnú torna-se padre na Paróquia de São Domingos do Sul, no norte gaúcho, onde permaneceu até sua morte, em 3 de janeiro de 1986. Dois anos antes, em 1984, recebeu o título de Monsenhor, reconhecimento dado aos sacerdotes da Igreja Católica por serviços prestados à Igreja.
Em dezembro de 2023, São Domingos do Sul recebeu a visita do padre Orlando Zanoveli, que já trabalhou em Roma e é conhecedor da causa dos Santos, para auxiliar na organização dos documentos ao processo de beatificação.
— O que mais me marcou foi a forma de santidade do Monsenhor. Foram inúmeras pessoas que conversaram comigo e relataram as graças que receberam, alguns são possíveis milagres, algo extraordinário aconteceu. Foram momentos bonitos, marcantes, de fé dessas pessoas. Sem a fé, é impossível que essas graças possam acontecer — afirmou o padre, à época.
Região Norte tem processo de canonização em andamento
A cerca de 180 quilômetros de Passo Fundo, na Arquidiocese de Frederico Westphalen tramita o processo de canonização do padre Manuel Gómez González e seu coroinha, Adílio Daronch, beatificados em 21 de outubro de 2007, após um processo que começou em 1996.
Com a beatificação, o padre e o coroinha já são considerados santos para a igreja e região de origem. A partir da canonização, serão considerados santos perante toda a Igreja Católica. Adílio, inclusive, foi o primeiro gaúcho a ser beatificado pelo Vaticano, além de ser o único coroinha a receber a graça de santo na Igreja Católica.
O padre Manuel Gómez González, por outro lado, é natural de Portugal e exerceu seu ministério na Espanha por 11 anos. Ele chega no Brasil em 1913 e, dois anos depois, é nomeado para exercer o sacerdócio na Paróquia de Nonoai, no norte do RS.
— Padre Manuel aqui desenvolve um apostolado muito rico, não só espiritualmente, mas também cuidando da parte material. Foi o primeiro professor de Nonoai dando aula, inclusive a Adílio, que era seu aluno — conta o padre Tiago Wollmann, vice-postulador da causa da canonização dos Beatos Manuel e Adílio.
O padre Manuel e coroinha Adílio foram mortos em 21 de maio de 1924 em Três Passos, alvos de uma emboscada. Segundo Wollmann, o motivo teria sido o fato de que o sacerdote teria desagradado autoridades políticas em meio à Revolução de 1923, quando passou a sepultar mortos de guerra deixados à beira do caminho.
— Foram amarrados e mortos a tiros, por ódio a fé que os dois pregavam — relata o padre.
Os corpos do padre e do coroinha só foram encontrados três dias depois por colonos que passavam pela região. Segundo o padre Tiago, desde essa época a comunidade local já os reconhecia como santos populares.
— No fundo, o processo já começa desde o início do martírio dos dois, onde o povo entende que a morte deles foi por amor a Deus e ao povo — afirma o padre.
Neste ano, uma programação especial marcará os 100 da morte dos beatos Manuel e Adílio, em 17, 18 e 19 de maio, na 60ª edição da tradicional romaria, em Nonoai. Em 21 de maio, uma celebração será realizada no local onde os dois foram encontrados mortos, no interior de Três Passos.