Há 12 anos o passo-fundense Chico Mattos, 42 anos, escolheu viver no Ártico, no extremo norte do planeta, que fica no Polo Norte, uma das regiões mais frias do mundo, onde os termômetros marcam temperaturas de até 40 graus negativos.
Conhecer a região onde vive, explorar as montanhas e ver de perto, inúmeras vezes, a aurora boreal, é seu cotidiano, mesmo assim cada dia é único para esse explorador.
— A natureza do Ártico mudou minha vida, minha maneira de pensar e me fez uma pessoa muito mais grata por tudo e de certa forma me desprendeu do materialismo. Pra mim não existe riqueza maior do que estar próximo dos ursos polares, da aurora boreal e das montanhas.
O que para muitas pessoas é apenas um sonho, para Chico se tornou um projeto de vida.
— Eu sempre soube que iria embora morar no exterior, era meu objetivo. Para isso estudei muito inglês, fiz aulas particulares com um americano que morava em Passo Fundo, aprendi muito da língua.
Ele conta que decidiu largar tudo e buscou viver de sua paixão, se sustentando por meio de vídeos e fotografias do Ártico, mas nem sempre foi assim. Para chegar até lá ele trabalhou em bares, muitas vezes em dupla jornada, aliando o trabalho com fotos e filmagens.
— Meu sonho era poder me sustentar fazendo gravações do Ártico, que é lugar que me traz paz e sossego mental. Aqui eu tenho o que sempre busquei, uma vida descomplicada e simples. Meu objetivo é aproveitar a minha passagem pela terra.
Francisco Mattos completa 43 anos em 21 de outubro. Nasceu em Passo Fundo. É o caçula de cinco irmãos. Estudou inglês desde os sete anos de idade, se dedicou muito à língua porque seu plano foi sempre morar no exterior. Para conseguir viajar, aceitou a sugestão do irmão e estudou para ser comissário de voo. Fez curso em Porto Alegre, trabalhou em uma companhia aérea, mas conta que não gostou da profissão.
Decidiu fazer faculdade e se formou em Comunicação Social: habilitação em Relações Públicas, pela Univali, de Itajaí, em Santa Catarina.
— Depois de formado arrumei emprego em um cruzeiro e nesse cruzeiro fui para o Alasca e para a Austrália, onde fui morar. Conheci minha esposa lá, na época eu já fazia vídeos, mas nunca consegui me sustentar com eles.
Desbravadores, decidiram ir morar no Ártico, onde tinha uma amiga em comum. Para se manter, trabalhou em um bar por um tempo, conciliando com as filmagens e edições dos vídeos.
— Durante um ano e meio fiz as duas coisas, até que consegui ter uma vida um pouco mais plena, fazer o que eu queria, sair na natureza, filmar. Foi muito legal, uma transição entre os anos de 2013 para 2014, onde comecei com as produções de televisão. Comecei a ver a aurora boreal cada vez mais e me apaixonei a cada dia. Comecei a ganhar dinheiro com isso e passava mais tempo filmando fora, isso mudou minha vida. Eu acho que todo mundo deveria ver a aurora antes de morrer.
O passo-fundense confessa que em todos estes anos a mudança não foi unicamente de estilo de vida, mas de crenças e padrões.
— Eu comecei entender um pouco mais do mundo e de mim, da natureza. Entendi que existe um gap, um pulo que queremos dar e não tem como. Precisamos voltar às origens. As pessoas estão ficando depressivas, estão muito na frente de uma tela, do videogame, isso está desregulando sua natureza. Acho que o ser humano deve buscar mais sossego e ter isso no dia a dia, assim podem ficar mais plenos, felizes e tranquilos.
O trabalho que proporcionou conhecer os sete continentes
Chicco diz que nestes 12 anos teve muitas realizações, especialmente porque através da sua escolha de vida pode viajar pelos sete continentes do mundo, trabalhando.
— Fui para a Antártida 12 vezes, percorri milhares de vezes todos os lugares possíveis. Sempre viajei bastante, mas não tanto. Minha profissão me trouxe oportunidades e conhecimento, e sou muito grato por isso.
Casado três vezes com a mesma mulher
Chicco é casado há 13 anos com Mia. Conheceu ela na Austrália, onde casaram oficialmente pela primeira vez, para ficarem no mesmo visto. Quando vieram ao Brasil casaram novamente e na terceira vez fizeram um novo registro na ilha de Bora Bora, na Polinésia Francesa. O casal está junto desde 2008, compartilham os mesmos interesses e objetivos. Tem dois cães que são seus companheiros e por enquanto optaram por não ter filhos.
Uma visão do paraíso todos os dias
Quando mudou para o Ártico, Chicco foi para Svalbard, onde fica a cidade mais ao norte do mundo. Morou nove anos lá. Depois foi para as Ilhas do Lofoten, onde permaneceu por três anos e em dezembro passou a viver em Alta, conhecida como a capital mundial da aurora.
— Para mim ficou comum ver a aurora no céu, mas quando vem muito forte parece um apocalipse. A impressão é que você pode encostar com a mão, ela ilumina tudo ao redor, a neve, as montanhas.
Estar em meio ao paraíso e ter liberdade estão entre as sensações mais emocionantes para ele.
— Poder andar de moto-neve, encostar na neve são coisas que não têm explicação. Eu moro para o lado da montanha, é o paraíso, saio explorando dos fundos da minha garagem direto para a montanha.
Sobre meta de vida Chicco conta que seu desejo é viver de forma auto-sustentável, de uma maneira que não precise usar o sistema para nada.
— Eu quero poder gerar minha energia solar, minha comida e praticamente ser uma pessoa auto-suficiente. Poder sempre arrumar minhas câmeras, que é algo que já faço, além de fazer reformas na casa, ter ferramentas para isso.
Aurora boreal
A aurora boreal é um fenômeno que se caracteriza pela formação de luzes coloridas no céu. O fenômeno está ligado à interação entre os ventos solares e elementos químicos. Ela ocorre somente no Hemisfério Norte do planeta.
GZH Passo Fundo
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