Empresários de máquinas e implementos agrícolas depositam a expectativa nos bons resultados da safra de soja para reaquecer o setor. Segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abrimaq), divulgado na última quarta-feira (27), as vendas nos dois primeiros meses de 2024 caíram 29,7% na comparação com o mesmo período do ano passado, o que representa R$ 7,57 bilhões. No caso de tratores a redução foi de 36,4% e 54,4% nas colheitadeiras.
Conforme o Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul, a baixa nas vendas acontece em todas as regiões do RS.
— As revendas compraram muitas máquinas e hoje todas estão com estoque. É evidente que primeiro, antes de comprar, elas vão desovar o seu estoque, vender as máquinas que têm estocadas — afirmou o presidente da entidade, Claudio Affonso Amoretti Bier.
A situação se tornou a realidade do empresário Newton Silvano Coletto, de Tuparendi, no noroeste gaúcho. A empresa dele registrava índices crescentes em 2022 e 2023, mas neste ano a queda foi brusca.
— Hoje as vendas estão de 30% a 35% abaixo do que vendemos nos anos passado e retrasado. As vendas de tratores e principalmente plantadeiras novas estão um desastre. Se vê uma luz que a boa colheita vai mudar os números. Os investimentos só vão vir se tiver uma boa safra — disse.
A colheita que iniciou há três semanas tem projeção de ser recorde no RS. Até agora, foram colhidos 8% de área plantada, segundo a Emater, e a expectativa é que a safra resulte em 35 milhões de toneladas no RS, alta de 44,5% em relação ao ano passado.
Interferências do clima e layoffs
As mudanças do clima são apontadas pelo setor como o principal motivo para a redução na rentabilidade do produtor rural e, por consequência, menos investimentos, como explicou o presidente da câmara setorial de máquinas e implementos agrícolas da Abrimaq, Pedro Estevão:
— A gente já previa uma queda em função de uma menor rentabilidade do agricultor nesse ano e isso foi bastante agravado pela seca que pegou o Brasil inteiro. Foi uma seca severa no centro-oeste, que é um grande mercado, e no sul teve um período com muita chuva, ou seja, a produtividade das lavouras caiu muito.
A baixa nas vendas fez duas indústrias de colheitadeiras do noroeste do Rio Grande do Sul paralisarem a produção de máquinas e adotarem o programa layoff em março. Em Santa Rosa, a ACGO suspendeu o contrato com 370 trabalhadores por três meses. Já em Horizontina, 1,1 mil trabalhadores da John Deere vão ficar em casa por 60 dias, com possibilidade do período se estender por até cinco meses.
— O sindicato fez o acordo pensando em manter a mão de obra qualificada e tentando construir algo que pudesse ter o menor impacto possível ao trabalhador — afirmou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Santa Rosa e região, Savio André dos Santos.