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Dos cinco setores econômicos, o da construção civil é o único com saldo negativo de empregos em Passo Fundo em 2023. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a área fechou 65 vagas e demitiu mais de 2 mil trabalhadores até outubro deste ano.
Em outubro, foram 200 trabalhadores demitidos e 190 admitidos. O cenário oscila: em setembro, a construção civil ficou em segundo lugar no índice de contratações, só depois do comércio. À época, sobraram 76 vagas abertas. Parece ter sido um mês atípico: em agosto, o setor fechou 32 vagas e, em julho, 23 (veja o saldo completo abaixo).
Enquanto isso, o setor de serviços continua sendo o que mais contrata profissionais na cidade. Em 10 meses, foram 17.182 admitidos nas organizações que incluem saúde, educação, alimentação e transporte. Enquanto 1.376 foram contratados no mercado formal, outros 1.165 foram demitidos. Pelo menos 211 vagas permaneceram abertas.
De modo geral, a cidade registrou saldo positivo em empregabilidade. Em outubro, foram 3.123 contratações e 2.696 desligamentos, um saldo positivo de 427 vagas. Depois de serviços, o comércio é o que mais contrata, com pouco mais de mil admissões e 920 desligamentos. A indústria vem em terceiro lugar, com saldo positivo de 41 vagas e o setor agropecuário com 14. Veja a seguir:
Saldo negativo tem a ver com desinteresse e terceirização, dizem entidades de classe
Tanto o Sindicato das Indústrias de Construção e Mobiliário (Sinduscon) quanto o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Passo Fundo afirmam que os principais motivos para o saldo negativo no setor tem a ver com três fatores: terceirização, inovação e desinteresse do público mais jovem no setor.
Segundo Ronaldo Falcão Maia, gerente do sindicato dos trabalhadores, as funções que passaram a ser mais terceirizadas na construção civil foram a de encanador, pedreiro, azulejista, gesseiro e pintor. Nesses casos, os trabalhadores deixam de ser contratados através da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e viram Micro Empreendedores Individuais (MEIs).
— O problema é que, na maioria das vezes, as empresas não pegam esses profissionais para fazer apenas trabalhos pontuais, mas para serem fixos, o que não é permitido. E aí o trabalhador aceita porque precisa trabalhar, mas fica sem décimo terceiro, sem férias e sem a estabilidade e garantia que teria se estivesse no regime CLT. Alguns até trabalham como horista, ou seja, chega no fim do mês e não recebem nada —afirmou Maia.
O Sinduscon, por outro lado, classifica a terceirização como uma necessidade da construção civil em busca de trabalho especializado. Construtoras com uma obra só, por exemplo, costumam demitir a força de trabalho assim que encerram a etapa inicial e contratam trabalhadores terceirizados para completar os acabamentos, como pintura e instalação de azulejos e vidraças, o que barateia a mão-de-obra.
Porém, enquanto uma demite, há outras empresas em busca de trabalhadores, afirma o presidente da Sinduscon. Só em Passo Fundo, são mais de 100 prédios em construção no momento. Com cenário aquecido, tanto Basso quanto Maia entendem que o saldo negativo de emprego na construção civil tem a ver com o desinteresse da população mais jovem pelo setor.
Basso usa como exemplo um curso de pedreiro de edificações e azulejista subsidiado pelo Sinduscon no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) no ano passado. Das 60 vagas, apenas 25 foram preenchidas. Maia, por sua vez, fala do mural instalado no sindicado, destinado às empresas que buscam trabalhadores em Passo Fundo. Segundo ele, os interessados em emprego deixam seus telefones para serem chamados pelas construtoras — mas o local está vazio há meses.
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— Vemos que os jovens não estão muito interessados em serviço pesado, que exige mais do físico. Estamos preocupados com isso. Oferecemos curso, tentamos incentivar, mas não tem procura nenhuma. As empresas nos chamam para que indiquemos pessoas, e simplesmente não tem ninguém — disse Maia.
Um levantamento do sindicato identificou que a idade média dos trabalhadores na construção civil é de 42 anos.
Até o momento, o fator menos relevante para o saldo negativo de empregos em construção são as inovações tecnológicas em uso na obra. Isso porque encarece a construção, apesar de acelerar o processo. Segundo Basso, máquinas já evoluem as obras com velocidade incomparável à ação humana e, de quebra, oferecem componentes diferentes do tijolo e argamassa, além de garantir uma técnica excelente.
Oscilações instantâneas
O economista e professor da Universidade de Passo Fundo (UPF), Julcemar Zilli, analisa que oscilações de empregos são uma rotatividade comum do ciclo econômico atual. No caso das construções, não parece haver desemprego estrutural, que acontece quando um determinado setor está em crise e fecha postos de trabalho em definitivo.
Com taxas de juros em declínio e expansão dos financiamentos do programa Minha Casa Minha Vida, o setor parece estar em aquecimento em Passo Fundo. Até outubro, a construção movimentou mais de R$ 500 milhões em negócios.
Levando em consideração todo o saldo de empregos do Caged, os índices indicam que há uma lacuna de trabalhadores: são pessoas que deixam um cargo e logo entram em outro, causando uma oscilação constante entre os setores no acumulado mês a mês.
— Quando uma pessoa sai de uma vaga e entra em outra, ela aparece na base de desligados mesmo que já esteja contratada por outra empresa. A sua entrada, então, só aparece nos dados do mês seguinte como contratada — aponta o economista.
A principal evidência para tal movimento é o fato de que em 2023 o saldo de emprego é de 3.631 (até outubro), enquanto o ano de 2022 terminou com saldo de 3.375. Em 2021, sobraram 4.208 vagas abertas, enquanto 2020, o primeiro ano da pandemia, terminou com 703 posições fechadas.
— Se o saldo é parecido entre 2022 e 2023, podemos observar que o número de vagas cresceu e há mais pessoas trabalhando que o ano anterior. Ou seja, não há extinção das vagas, mas rotatividade, mudanças de emprego. Isso é comum quando há muitas empresas contratando, mas poucas pessoas capacitadas no mercado, o que amplia a circulação desses profissionais, dependendo da oferta de salário. Ou seja, não é desemprego, é transição — explicou Zilli.