De países diferentes, o senegalês Cheikh Bamba Dia, de 32 anos, e a venezuelana Horyani Stefania Becerrit Mendez, de 27, chegaram em Passo Fundo com o mesmo propósito: construir um novo lar. Juntos, eles representam uma parcela da população que moldou a cidade como destino de migrantes.
Só em 2023, mais de 1,3 mil imigrantes já passaram por Passo Fundo, vindos, em sua maioria, da Venezuela. O número foi contabilizado pelo Balcão do Migrante e do Refugiado da Universidade de Passo Fundo (UPF), que auxilia na documentação e regularização dessas pessoas que buscam oportunidades de emprego e vida digna no norte do Estado.
A visão de quem vem de fora, em busca de melhor qualidade de vida, será o tema do terceiro episódio da série Olhares, desenvolvida por GZH para celebrar os 166 anos de emancipação política de Passo Fundo, comemorada na última segunda-feira (7).
Em busca de qualidade de vida
A instabilidade política e econômica foi o que levou a distribuidora comercial Horyani deixar a Venezuela em 2019, junto do marido e da filha de um mês. Apenas depois de um ano morando no estado de Roraima foi que Passo Fundo surgiu como um destino para a família, apresentado em um projeto de interiorização da entidade católica Cáritas.
— Saí para ter oportunidades e um futuro mais próspero para meus filhos, e aqui já melhoramos nossa qualidade de vida em grande medida. Conseguimos emprego e tivemos nossa segunda filha. Somos muito gratos ao acolhimento do povo de Passo Fundo, que é muito querido. Queremos e vamos continuar aqui.
Foi este acolhimento que incentivou a distribuidora comercial a se inserir na Associação de Venezuelanos em Passo Fundo. Eles prestam assistência para que os novos conterrâneos sejam orientados e tenham suporte e para que Passo Fundo seja um lar de migrantes.
— Ajudamos os que estão chegando e que não conhecem o idioma, as oportunidades de emprego ou como regularizar as documentações, a se adaptarem e se inserir melhor na cultura brasileira, enriquecendo-a também com os nossos costumes. E vamos fortalecer esse trabalho mais e mais — afirmou Horyani.
Sonhar em Passo Fundo
Foi após o falecimento do pai que Cheikh decidiu deixar o Senegal em 2014 e seguir seu sonho de viajar. Escolheu São Paulo como o primeiro destino, onde morava o irmão, mas não se adaptou com a rotina da cidade e veio para Passo Fundo com o objetivo de encontrar uma cidade tranquila.
Hoje naturalizado brasileiro, Cheikh abriu o próprio negócio no ramo de vestuário e vive na cidade com as filhas passo-fundenses, de três e cinco anos.
— Eu quase não sinto falta (de casa), porque tenho pessoas aqui que posso chamar de família, mesmo não tendo sangue, mas que fazem eu me sentir assim. É uma cidade que acolhe muito bem os imigrantes, temos que agradecer muito o povo passo-fundense por abrir essa porta para gente.
Para o futuro da cidade, o senegalês almeja um lugar ainda mais plural e interessado pela cultura dos imigrantes:
— Eu gostaria muito que Passo Fundo tentasse descobrir mais das nossas culturas, pois quando você souber mais, saberá como lidar com as pessoas. Nós não precisamos passar fome para vir para cá, muitos vieram apenas buscar coisas melhores. Agora nós fazemos parte dessa sociedade, e vamos que lutar, igual todo mundo, para tudo dar certo — disse o empresário.