A solução para voltar a conectar o Rio Grande do Sul ao resto do país pela malha ferroviária passa por um grupo de trabalho que começou a se movimentar em Brasília na última sexta-feira (29).
Os trilhos, mantidos pela concessionária Rumo, foram danificados na enchente de maio e os trechos que seguem com interdição bloqueiam o acesso ferroviário do Brasil ao Estado, e vice-versa.
A situação preocupa porque interrompe o corredor ferroviário ao Porto de Rio Grande, um dos principais canais logísticos do país junto com o Porto de Paranaguá (PR).
Na metade de novembro, a Rumo informou que a malha ferroviária demanda R$ 2,1 bilhões para recuperação. O valor e a proximidade com o fim do contrato de concessão — prevista para 2027 — motivaram a abertura do grupo de trabalho pelo Ministério de Transportes.
Quem lidera a força-tarefa é o secretário-executivo George Santoro, com quem conversei na sexta. Segundo ele, o grupo vai dialogar com especialistas técnicos, governos dos três estados da Região Sul, de São Paulo e representantes no Congresso. O objetivo: resolver o problema causado pela enchente no RS e, a partir disso, adequar a Malha Sul.
Possíveis soluções
Novo traçado
Na primeira reunião, o grupo estabeleceu o cronograma de reuniões pelos próximos 90 dias (há possibilidade de prorrogar por mais três meses). A partir daí começam as discussões sobre as alternativas às ferrovias gaúchas — entre elas uma possível mudança no traçado.
No Rio Grande do Sul isso é importante porque os trilhos que existem hoje são centenários e foram criados para uso militar e de defesa, o que faz com que não estejam em linha reta. No uso logístico, como é hoje, a malha torna-se lenta e contraproducente.
— Para ser eficiente precisamos fazer várias mudanças de traçado. Vamos verificar se esse é o melhor caminho e se a largura atual (bitola métrica) é a ideal — afirmou Santoro.
Aporte público
Conforme Santoro, o ministério considera a possibilidade de abrir um crédito extraordinário para resolver os danos nas ferrovias gaúchas.
— Esse aporte público pode vir agora ou mais para frente, através da concessão (da Rumo) ou mesmo em uma nova concessão. Vamos decidir no grupo se o melhor caminho é licitar novamente ou encontrar um novo operador — afirmou.
Segundo ele, a Rumo solicitou renovação antecipada do contrato de concessão antes das enchentes.
Tempo e custo
Uma ferrovia greenfield (que inicia do zero) custa de R$ 15 milhões a R$ 31 milhões por quilômetro. Por isso, o plano do governo federal é usar o atual traçado como referência, o que diminui a necessidade de desapropriação e licenciamentos ambientais, por exemplo.
Ainda assim, a resolução prática não deve vir tão cedo.
— Eu não vou mentir para você e dizer que em três anos tudo estará resolvido. Não. Um projeto desse é demorado. Mas o mais importante é ter uma solução que atenda aos anseios da população e da economia locais. Tempo é importante, mas nesse primeiro momento precisamos buscar a solução — pontuou Santoro.
Hoje o único trecho das ferrovias gaúchas que opera normalmente é o que liga Cruz Alta, na Região Noroeste, ao Porto de Rio Grande.
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