Menos de 24h: esse é o tempo médio que um trabalhador da construção civil qualificado leva para encontrar uma vaga de emprego em Passo Fundo. A estimativa é do Sindicato das Indústrias e Construção de Mobiliário de Passo Fundo (Sinduscon), que representa o setor.
No caso de Valderi Gonçalves, 48 anos, as empresas é que foram procurá-lo depois que ele espalhou cartazes pedindo trabalho como pedreiro nas paradas de ônibus da cidade. A resposta foi rápida:
— Menos de 48 horas depois de colocar os cartazes já comecei a receber as ofertas, desde para trabalhar por diária até para ser contratado em empresa — contou à coluna.
Com mais de 30 anos trabalhando como pedreiro, Valderi chegou na cidade em 2023 e atuou em outro setor antes da decisão de voltar para a construção civil. Segundo ele, a procura das empresas depois que o cartaz viralizou nas redes sociais (veja abaixo) surpreendeu.
— Tem muito trabalho e a mão-de-obra ainda é bem paga — disse ele, que tem planos de permanecer na cidade.
Não é por acaso: Passo Fundo tem oportunidades sobrando no setor da construção civil. A cidade tem 98 empreendimentos em construção e empresas procuram trabalhadores qualificados para preencher os espaços deixados pela mão-de-obra escassa com frequência.
— A demanda continua desesperadora. Quem for qualificado pode conseguir um trabalho em até menos de 24 horas e tem muitas vagas para iniciantes com oportunidade de qualificação — disse Cristiano Basso, presidente do Sindicato das Indústrias e Construção de Mobiliário de Passo Fundo (Sinduscon).
MEIs e informalidade
Apesar da demanda do mercado, o Cadastro Geral do Empregados e Desempregados (Caged) aponta o fechamento de vagas formais no setor. Assim como aconteceu em 2023, a construção civil extinguiu 29 vagas até o começo de julho em Passo Fundo. No ano passado, foram 151 a menos.
Mas como o mercado pode estar aquecido se tem menos vagas formais? Tanto o sindicato dos trabalhadores quanto o patronal concordam que a explicação tem a ver com dois fatores: o trabalho informal e o cada vez mais alto número de profissionais que atuam como Microempreendedores Individuais (MEIs) na cidade.
— Uma parcela grande atua na informalidade, especialmente na etapa de levantar a estrutura, como auxiliares e serventes. É difícil encontrar mão-de-obra qualificada, mais ainda nessas posições. Além disso, os profissionais estão cada vez mais autônomos e preferem trabalhar com metro quadrado — relatou Pablo Frediani Lima, sócio proprietário da construtora MML.
Conforme dados da Receita Federal, quase 80% dos 2.763 CNPJs ativos em Passo Fundo como serviços especializados em construção são MEIs (2.177). É o caso de Valderi, que espalhou pedidos de emprego a próprio punho pela cidade para se posicionar como MEI através de parcerias com engenheiros e construtoras.
— Eu quero trabalhar e aqui vejo que tem muito espaço e possibilidade de ter lucro. Estou disponível para qualquer teste que for necessário porque sei que assim consigo entrar no mercado de vez — terminou, bem-humorado.
Essa é a primeira coluna de Julia Possa dedicada a negócios, inovação, empresas e iniciativas empreendedoras de GZH Passo Fundo. Para comentários, dúvidas e sugestões de pauta entre em contato através do e-mail julia.possa@gruporbs.com.br.