Por Deniz Anziliero, diretor da Escola de Agronegócio da Atitus Educação
A população mundial deve atingir 10 bilhões de pessoas até 2050, conforme projeção da Organização das Nações Unidas (ONU). Esse crescimento populacional traz desafios e oportunidades, especialmente para o Rio Grande do Sul, que possui uma forte tradição agropecuária. O cenário impõe questões importantes para a produção de proteína animal no Estado, um setor vital para a economia gaúcha.
O agronegócio, em toda a sua cadeia, do campo até chegar na mesa do consumidor, representa 40% do Produto Interno Bruto (PIB) do RS. Assim, o setor é um motor para a geração de empregos, desenvolvimento regional, implementação de práticas sustentáveis e, principalmente, para a segurança alimentar, tanto no Brasil quanto em outros países, por meio das exportações.
Em 2023, as exportações de produtos agropecuários despontaram como um dos principais pilares da economia gaúcha, gerando US$ 15,8 bilhões em negócios com 204 países. O complexo da soja, que responde por 40% desse valor, lidera as exportações, seguido pela proteína animal.
Nesse mesmo ano, o Estado exportou carne bovina para 98 países, totalizando US$ 293,4 milhões em receita. A indústria de couro e peles também teve um desempenho expressivo, com US$ 286,7 milhões exportados para 65 países, sendo China, Reino Unido e Estados Unidos os principais destinos.
Com sua pecuária reconhecida pela qualidade dos rebanhos e destaque em genética e sanidade, o Rio Grande do Sul é uma referência no setor.
Por outro lado, a pecuária leiteira, embora relevante social e economicamente, enfrenta grandes desafios. Presente em praticamente todos os municípios do RS, essa cadeia produtiva tem visto uma crescente concentração em menos propriedades.
A importação de leite, aliada ao aumento dos custos de produção e a dificuldades com infraestrutura e mão de obra, tem pressionado os produtores locais. Apesar disso, mais de 30 mil propriedades no Estado ainda dependem do leite como fonte de renda, com maior concentração na região Norte e Noroeste.
Outras cadeias importantes de proteína animal no Rio Grande do Sul são a avicultura e a suinocultura. A avicultura gaúcha exporta frango para 137 países, gerando US$ 1,45 bilhão em receitas e colocando o Estado como o terceiro maior exportador nacional, além de líder na exportação de perus.
O setor é particularmente forte nas regiões da Serra, dos Vales e no Norte do Estado. Em termos de produção de ovos, o Rio Grande do Sul responde por 11% da produção nacional, ocupando o quarto lugar no ranking.
Já a suinocultura exporta para mais de 80 países, sendo o segundo maior exportador do Brasil, com uma forte concentração de produção no Norte do Estado.
Tanto a avicultura quanto a suinocultura são sensíveis à volatilidade dos mercados internacionais de commodities, como milho e soja, que são a base da alimentação dos rebanhos. Fatores climáticos e questões políticas, especialmente ligadas ao crédito, também afetam esses setores.
Embora a agricultura brasileira já seja uma referência mundial em termos de transformação digital, a pecuária ainda tem espaço para crescer nessa área. Existem grandes oportunidades para que o setor agropecuário assuma um protagonismo ainda maior, mas os desafios são igualmente significativos.
Nas últimas décadas, a avicultura e a suinocultura brasileiras se consolidaram como líderes globais, impulsionadas por investimentos pesados, adoção de alta tecnologia e profissionalização do setor. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) teve um papel essencial nessa trajetória de sucesso.
Em ano eleitoral, é preocupante a ausência nos debates de projetos a longo prazo que possam dar suporte a setores tão fundamentais para as economias municipais.
Infraestrutura de estradas, energia elétrica, conectividade à internet, segurança e qualificação de mão de obra deveriam estar no centro das discussões políticas. Afinal, o campo continua sendo o principal motor que alimenta e movimenta a economia da grande maioria dos municípios gaúchos.
Por Deniz Anziliero é diretor da Escola de Agronegócio da Atitus Educação