Datas que marcam uma nova década cumprida sempre merecem ser solenizadas. A vez é de celebrar a Feira do Livro de Porto Alegre, que chega aos 70 anos. O evento literário, patrimônio cultural da cidade e do Rio Grande do Sul, foi aberto ontem e vai até o próximo dia 20.
O capítulo a ser escrito nesta edição guarda um caráter especial, destinado a marcar a história da feira. Não apenas por tornar-se um acontecimento septuagenário, mas por ser o ano da maior enchente já registrada no Estado e na Capital. A Praça da Alfândega, onde é realizada desde 1955, foi um dos lugares invadidos pela água e pela lama há apenas seis meses. O espaço que era tomado pelo silêncio e o tom marrom da tragédia, agora, sob o ar primaveril, ostenta um tapete de flores lilases e amarelas e volta a ser o ambiente festivo do burburinho dos encontros entre leitores, escritores, editores e livreiros.
A Praça da Alfândega, onde a Feira do Livro é realizada desde 1955, foi um dos lugares invadidos pela água há apenas seis meses
É uma Feira do Livro da retomada, muito além do aspecto simbólico. A sua realização reforça a sensação de que a normalidade está de volta. Mas também será de significativa relevância para o setor que, ao longo das últimas décadas, imprimiu características especiais ao evento. Vinte e sete editoras associadas à Câmara Rio-Grandense do Livro (CRL) que estão no evento tiveram as suas dependências alagadas em maio, com perdas materiais substanciais, inclusive de estoques. A literatura, aliás, foi uma das vítimas da catástrofe climática. Em junho, a Secretaria Estadual da Cultura (Sedac) estimou que cerca de 100 mil livros foram perdidos no Rio Grande do Sul, arruinados pela água, muitos em bibliotecas de escolas.
Adversidades e contratempos, aliás, não são novidades para a Feira do Livro da Capital. Em 2020, a pandemia impediu a realização presencial, mas a organização não mediu esforços para o evento continuar a ostentar a marca de ser ininterrupto, além de o mais antigo do gênero que permanece ocorrendo no país. Foi organizada a venda online de obras. Palestras, oficinas e bate-papos com autores e convidados, no formato virtual, movimentaram os amantes e dos livros e o setor, na forma possível. Nos últimos anos, como agora, é a insuficiência de verba que atrapalha. Mas nada que ofusque o seu brilho.
Nesta 70ª feira, serão 72 bancas na Praça da Alfândega, abertas das 10h às 20h, além de uma vasta programação para crianças e adultos. Está prevista a presença de mais de mil autores – do Estado, do país e do Exterior – e 700 sessões de autógrafos. Uma curadoria para literatura negra é uma das novidade. Oficinas literárias, saraus, apresentações de música, shows e teatro também serão atração para o público. Das 72 bancas, 10 estão na área infantil e juvenil, espaço nobre destinado a estimular a formação de novos leitores.
A CRL, promotora do encontro, estima que, ao longo dos 20 dias da feira, cerca de 1,5 milhão de pessoas circularão pelos espaços do maior evento literário a céu aberto da América Latina, que neste ano tem o tema “O tempo passeia por aqui” e Sergio Faraco como patrono. É uma ocasião especial que permite, em um só lugar, garimpar raridades, descobrir novidades, conseguir um autógrafo almejado ou trocar impressões com autores renomados e aproveitar uma variada programação cultural, enquanto se revisita o Centro Histórico da capital dos gaúchos. Sobram motivos, portanto, para prestigiar a 70ª Feira do Livro de Porto Alegre e apoiar a cadeia do livro.