A semana chega ao fim com mais dados a atestar o bom momento da economia real no país. O IBGE mostrou ontem que a taxa de desemprego no terceiro trimestre recuou para 6,4%, a menor para o período desde o início da série histórica, em 2012. Também é o segundo patamar mais baixo levando-se em consideração todos os trimestres. Na quinta-feira, o Ministério do Trabalho informou que, em setembro, o país surpreendeu novamente na criação de vagas com carteira assinada. O saldo positivo foi de 247,8 mil postos formais. É o reflexo da atividade aquecida, em um ritmo muito acima do que se projetava no início do ano. O PIB do país deve avançar mais de 3% em 2024, conforme o consenso do mercado extraído do Boletim Focus do Banco Central (BC).
Há, neste momento, uma justificada preocupação com a trajetória de alta da dívida pública brasileira
A ampla maioria dos brasileiros, com a exceção dos movidos por picuinhas políticas, deseja a continuidade de um crescimento duradouro e da manutenção de um mercado de trabalho dinâmico. Mas para torcer por este cenário virtuoso não existe a obrigação de fechar os olhos para os alertas no horizonte. Pelo contrário. Chamar atenção para esses avisos reflete a aspiração de o Brasil avançar de forma consistente e sustentável. Ou seja, que o país não experimente outro voo de galinha. Mas, para isso, são necessários ajustes de rota.
Há, neste momento, uma justificada preocupação com a trajetória de alta da dívida pública brasileira nos próximos anos. É o resultado da percepção de que o governo federal hesita em mostrar determinação na busca do equilíbrio fiscal por meio do corte estrutural de gastos, mesmo após o ajuste pelo lado da ampliação das receitas se esgotar. Os sinais são inúmeros no mercado financeiro, mas com reflexos no dia a dia das famílias e das empresas.
O dólar, que no final de 2023 estava na casa dos R$ 4,85, se aproxima dos R$ 5,80. O mais recente Boletim Focus mostrou a expectativa de que o IPCA, a inflação oficial, encerre o ano a 4,55%, ultrapassando o teto de tolerância da meta. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC tornou a subir a Selic e os juros futuros estão em tendência de alta. É uma conjuntura que pressiona os preços e tende a frear a economia. Há outras razões para o pessimismo, como o impacto do clima na inflação e a incerteza gerada pela eleição norte-americana. Ainda assim, o maior foco da tensão é a falta, até agora, de medidas consistentes para racionalizar despesas e estabilizar a dívida pública do país.
Os ministérios da Fazenda e do Planejamento do governo Luiz Inácio Lula da Silva prometeram apresentar depois da eleição um pacote de corte de gastos de até R$ 50 bilhões. Parte deve passar pelo Congresso. A demora na divulgação das medidas amplia a desconfiança. Aguarda-se que, quando forem conhecidas, possa existir a certeza de que se trata de um plano consistente e imune a fogo amigo.
As iniciativas em gestação incluem a contenção de despesas obrigatórias e o redesenho de políticas como o seguro-desemprego, o abono salarial e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). São consideradas impopulares. Mas o verdadeiro golpe na popularidade do governo seria um cenário de redução drástica do crescimento e de inflação, dólar e juros ainda mais altos.