Nunca é demais lembrar a humanidade sobre o risco de medidas extremas, como o uso de arsenal atômico. Em um momento de elevação de tensões planetárias, com vários conflitos em curso, torna-se um alerta ainda mais oportuno. A escolha da organização japonesa Nihon Hidankyo para ser agraciada com o Nobel da Paz deste ano cumpre este papel. A entidade é formada por sobreviventes dos ataques dos Estados Unidos às cidades de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945, no final da Segunda Guerra Mundial, evento que no próximo ano completa oito décadas. Estima-se que os bombardeios podem ter vitimado até 200 mil pessoas, incluindo os que sofreram consequências da radiação ao longo do tempo.
A escolha do comitê do Nobel, ao premiar o esforço de pessoas que viveram a experiência traumática de explosões nucleares, é um apelo para a comunidade global e seus líderes lembrarem que armas atômicas nunca mais devem ser acionadas
Esta é a 10ª vez que o Comitê Norueguês do Nobel direciona a láurea para o tema. Mas, agora, é uma distinção ainda mais tempestiva. O mundo atravessa um dos períodos mais conturbados em décadas em termos de conflagrações entre países e grupos armados. Um deles é a guerra na Ucrânia, desde a invasão pela Rússia, no início de 2023. Por questões geopolíticas, tornou-se um conflito com envolvimento indireto dos EUA e da Europa, que tentam conter o expansionismo do presidente russo, Vladimir Putin. No jogo de advertências e dissuasões, o Kremlin fez várias vezes nos últimos dois anos menções ao uso de armas nucleares.
Conforme a Organização das Nações Unidas (ONU), existem cerca de 12,5 mil armas nucleares no mundo nas mãos de sete países, ainda que os números variem, conforme diferentes fontes. Cerca de 90% estariam nos arsenais de Rússia e EUA. A terceira potência seria a China. Embora não existam informações oficiais, a Coreia do Norte, aliada russa e em constantes refregas retóricas com a Coreia do Sul, também disporia de ogivas. Pairam dúvidas sobre o Irã, embora acredite-se que o país dos aiatolás, fonte de instabilidade no Oriente Médio, tenha capacidade de produzi-las.
A possibilidade de um conflito entre EUA e China também desperta temores. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar dos EUA com a Europa, da mesma forma cogita ampliar o seu poderio no Velho Continente devido à ameaça russa. Em meio a uma espécie de nova Guerra Fria, nenhuma das nações que têm ou poderiam ter ogivas aderiu ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares, de 2021.
A escolha do comitê do Nobel, ao premiar o esforço de pessoas que viveram a experiência traumática de explosões nucleares, é um apelo para a comunidade global e seus líderes lembrarem que armas atômicas nunca mais devem ser acionadas.