Foram tranquilizadoras as respostas do atual diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, na sabatina realizada na terça-feira no Senado que tratava de sua designação para presidir a instituição, guardiã da moeda brasileira. No plenário, foi aprovado com folga, com 66 votos a favor e cinco contrários, após ser chancelado por unanimidade na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), na qual demonstrou desenvoltura e arrancou elogios até de parlamentares da oposição.
Futuro presidente do BC terá de provar constantemente na prática que não será leniente com a inflação
O economista de 42 anos, indicado para o cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recebeu amplo aval por ter respondido de forma peremptória aos questionamentos acerca do tema que mais despertava atenção. A saber, a garantia de que atuará com independência e será pautado pelo rigor técnico, sem ceder a eventuais pressões que venham de Lula para reduzir a fórceps a taxa Selic. Assegurou ainda que manterá o foco no controle dos preços no país, perseguindo as metas de inflação. A promessa de que não sofrerá constrangimentos, sustentou, ouviu do próprio presidente de República.
À frente do BC a partir de 1º de janeiro de 2025, com um mandato de quatro anos, Galípolo terá de provar constantemente na prática que não será leniente com a inflação ou se dobrará a possíveis queixas do presidente da República em relação à situação do juro no país. É possível que, quando assumir, persista a tendência de elevação da Selic pela inflação pressionada e por expectativas desancoradas devido à pouca propensão do governo em racionalizar gastos. A permanência do ciclo contracionista da política monetária por certo não agradará a Lula. Por discordância da mesma natureza, o petista transformou o atual comandante do BC, Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, em um alvo frequente. Só não foi defenestrado pelo avanço institucional da lei sancionada em 2021 que estabelece a autonomia do BC para blindá-lo de assédios políticos.
Espera-se que Galípolo cumpra os compromissos assumidos no Senado e Lula contenha os seus instintos. A tentativa de reduzir juro na marra, cerca de uma década atrás, gerou um desastre no Brasil. Produziu recessão e desemprego. Não há um agente sequer da economia real que não deseje o afrouxamento monetário, com a redução dos custos do capital. Mas, para isso, devem existir as condições necessárias. Faria bem o governo se, com uma política fiscal mais preocupada em controlar despesas, ajudasse a criar essa conjuntura.
Galípolo tem passagem pelo setor privado. Entre 2017 e 2021, presidiu o Banco Fator. Depois, aproximou-se da campanha de Lula, exercendo um papel de interlocução com o mercado financeiro. Em seguida, tornou-se secretário-executivo do Ministério da Fazenda sob Fernando Haddad, até ser indicado para a diretoria do BC, no ano passado. Apesar de jovem, tem currículo e preparo. Ao lado dos demais gestores indicados pelo governo, terá agora a responsabilidade de preservar a estabilidade da moeda e evitar qualquer possibilidade de arroubos intervencionistas externos gerarem intranquilidades na economia. Galípolo foi escolhido por Lula, mas deve fidelidade ao país e aos brasileiros.