Apesar da rápida recuperação de alguns dos principais indicadores da economia gaúcha, a permanência da alta demanda por crédito das empresas do Estado afetadas pela enchente de maio demonstra de forma clara que, para este grupo, ainda haverá um longo caminho para o pleno reerguimento. São milhares de empreendedores, de todos os portes, que cinco meses após a tragédia climática seguem buscando financiamento de programas dos governos federal e estadual. Os dados do Painel da Reconstrução, desenvolvido pelo Grupo RBS, bem ilustram esta alta procura. Até a semana passada, o financiamento contratado chegava a R$ 17 bilhões, como mostrou reportagem publicada na edição de fim de semana de Zero Hora.
É preocupante que, apesar de transcorridos mais de 150 dias da enchente, ainda existam empresas que estão à espera desta espécie de primeiros socorros financeiros
A linha mais demandada é a BNDES Emergencial. Alcança recursos para capital de giro, compra de maquinários e equipamentos ou investimentos estruturais. Foram firmadas 4,9 mil operações, que emprestaram R$ 10,6 bilhões. Levantamento semelhante, divulgado no dia 6 de setembro, apontava um montante de R$ 7,5 bilhões. Nota-se, portanto, que em um período pouco superior a um mês, o montante direcionado para as companhias atingidas nessa modalidade subiu 40% — ou R$ 3,1 bilhões. Ainda seria preciso compreender melhor se a demanda se acelerou nas últimas semanas ou, devido à lentidão dos processos de aprovação, mais contratos foram assinados agora.
Também resta nítido que a maior necessidade é fôlego financeiro imediato. Das três opções do BNDES Emergencial, a maior avidez é por recursos para capital de giro. Até gora, foram R$ 8,5 bilhões contratados. No início de setembro, o total chegava a R$ 6,15 bilhões. Trata-se de uma modalidade empregada especialmente para compromissos mais urgentes. É preocupante que, apesar de transcorridos mais de 150 dias da enchente, ainda existam empresas que estão à espera desta espécie de primeiros socorros financeiros. Esta linha é destinada desde a microempresas a grandes grupos.
Voltado apenas a micro e pequenos negócios, o chamado Pronampe Solidário liberou um volume menor de recursos, mas em uma quantidade bem maior de operações — 32 mil. São, até aqui, R$ 3,2 bilhões contratados. Ainda assim, é uma linha que permanece relevante, como explicou à reportagem Wilson Marsaro, sócio da transportadora Marsaro, de Canoas, na Região Metropolitana. Ele calcula um prejuízo de R$ 500 mil com os alagamentos. O empresário recebeu no dia 4 de outubro um crédito de R$ 150 mil, o teto da modalidade. Usou para pagar salários e outras contas atrasadas. É um caso ilustrativo do quanto perduram os transtornos para muita empresas afetadas pela cheia histórica. Alarma o fato de, cinco meses depois, ainda existirem negócios com compromissos de curto prazo pendentes.
São situações que voltam a chamar atenção para a importância de buscar reduzir a burocracia usual para atender em um prazo razoável os empreendedores castigados pela catástrofe climática. Ainda há pontos sem a devida solução que dificultam o acesso aos recursos, como a necessidade de apresentar garantias, uma impossibilidade para quem viu a água arruinar seus bens. O tempo para a ajuda chegar é decisivo para um negócio se recuperar ou sucumbir.