Por Sergio Schneider, professor de Sociologia da UFRGS
Estamos às vésperas da retomada do aeroporto Salgado Filho. Nunca havia imaginado quão importante é um aeroporto na vida de uma cidade. As viagens a Floripa e o retorno desde lá a Porto Alegre, “morto de cansaço” de viagens internacionais, dão a exata noção do valor de um aeroporto a 15 minutos do centro da Capital.
As imagens da inundação do saguão de entrada e na parte externa jamais se apagarão da cabeça. Também não sairá da memória que meu carro ficou preso no sexto andar por mais de 40 dias. Sorte minha!
A inundação que afetou o Aeroporto Salgado Filho passou, mas não é o passado
A retomada dos embarques está sendo celebrada por dirigentes políticos, empresariais, imprensa e usuários em geral. Parece que a retomada do aeroporto é a parte final, a última etapa, a ação derradeira que faltava para que tudo “volte ao normal”. Quando as pessoas puderem chegar ao RS e sair de Porto Alegre pelo Salgado Filho, as imagens do que vivemos em maio de 2024 vão entrar para a memória, vão ficar no passado. Finalmente, as enchentes serão o passado, teremos, afinal um pleno pós-maio 2024.
Estou feliz com a retomada do aeroporto!! Contudo, meu temor é que com a reabertura do Salgado Filho vamos colocar no passado algo que ainda é atual, que é do presente e, sobretudo, que será parte do nosso futuro.
A inundação que afetou o Aeroporto Salgado Filho passou, mas não é o passado. As enchentes severas que tanto sofrimento causaram a Porto Alegre são o novo normal, são o presente e serão parte do nosso futuro.
As mudanças climáticas não deixarão de nos afetar no futuro próximo. Espero que a reabertura do aeroporto, símbolo da galhardia dos gaúchos, não seja um cântico de vitória ou “a” superação.
Não podemos colocar no passado aquilo que ainda é do presente e se situa no horizonte do porvir. Não nos enganemos: reabrir o aeroporto é importante, mas é pouco em face do que temos que fazer para nos preparar melhor para o que vem pela frente.