Merecem ser acompanhados de perto pela sociedade os desdobramentos do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial 2024-2028 (PBIA) – IA para o Bem de Todos, apresentado no final de julho pelo governo federal. O documento, afinal, apresenta as ambições do país para inserir-se na corrida global que envolve a área do conhecimento mais instigante e desafiadora da atualidade, pelas possibilidades que abre e pelos temores sobre os limites éticos de seu uso.
Sem prender-se ao ceticismo ou à empolgação, cabe à sociedade estar atenta e cobrar a implementação do PBIA
Qualquer país que pretenda não ser mero coadjuvante no domínio da tecnologia que tende a ditar o futuro em várias áreas, das relações de trabalho à saúde, com impacto da economia à geopolítica, deve estar atento a esse tema. Trata-se também de soberania e poder. Não fosse assim, EUA e China, as maiores potências mundiais, não estariam se digladiando nesta arena, direcionando recursos vultosos a programas nacionais da IA.
A iniciativa brasileira prevê um investimento de R$ 23 bilhões em cinco anos, patamar semelhante ao de nações europeias, mas ainda bastante atrás de chineses e norte-americanos. De forma resumida, o PBIA prevê cinco eixos: criação de infraestrutura, formação e capacitação, melhoria de serviços públicos, inovação empresarial e processo regulatório.
Apenas para ilustrar, no primeiro eixo é prevista a montagem de um supercomputador para dar impulso à pesquisa em IA e o treinamento de modelos de linguagem em português. No segundo, a criação de laboratórios, formação de educadores na área e concessão de bolsas de estudo. Ter capital humano apto é basilar. No eixo três, um dos desafios é desenvolver uma nuvem para proteger e gerir dados nacionais, assegurando a privacidade e o tratamento adequado às informações dos brasileiros. No quatro, está incluído o apoio a startups. No último, o da regulação, são tratadas questões éticas e de transparência no funcionamento dos algoritmos.
O lançamento do PBIA dividiu opiniões, entre a empolgação e o ceticismo. Há os que esperam benefícios significativos para o Brasil em termos de formação de pessoal especializado, criação de laboratórios, domínio e desenvolvimento de tecnologia, soberania, aperfeiçoamento de serviços e impulso econômico. De outro lado, por tratar-se de uma iniciativa de origem estatal, gera a desconfiança de que a burocracia crie um descompasso entre o previsto e o executado. Torna-se um questionamento válido por referir-se a um segmento que evolui com velocidade alucinante e requer investimentos pesados e constantes.
O PBIA é fruto de uma ampla discussão com centenas de envolvidos entre especialistas, organizações civis e iniciativa privada. Não é uma ideia com diretrizes gestadas somente no governo, portanto. Mesmo assim, segue no campo das intenções. A despeito das interrogações, não há dúvida de que a IA será cada vez mais um instrumento a serviço da produtividade, do progresso e até do bem-estar quando aplicada em áreas como a de prevenção na saúde, só para citar uma, entre tantas. Convém ao Brasil tentar se colocar da melhor forma possível nesta corrida. Sem prender-se ao ceticismo ou à empolgação, cabe à sociedade estar atenta e cobrar a implementação do PBIA.