São preocupantes algumas das informações levantadas na série de reportagens publicada em Zero Hora sobre como anda a recuperação do Rio Grande do Sul após a cheia de maio em oito dimensões essenciais. Despertam especial atenção as áreas de educação e saúde, que estão entre os mais importantes serviços prestados pelo poder público à população. Em ambas, apenas um quarto dos recursos prometidos chegou à ponta. Não é possível se conformar com esse quadro de lentidão no cumprimento da palavra empenhada com os gaúchos.
Na recuperação de escolas, foram pagos R$ 150 milhões dos R$ 604 milhões oficialmente disponibilizados. A lentidão em reparos e reformas prejudica milhares de alunos, que, ao que parece, terão a aprendizagem do ano letivo bastante comprometida. Alarma mais ainda porque, há poucos anos, a pandemia já prejudicou de forma significativa a assimilação de conhecimento devido ao grande tempo de escolas fechadas. Duplamente afetados, têm o futuro ameaçado.
Despertam atenção as áreas de educação e saúde, que estão entre os mais importantes serviços à população
A maior parte dos recursos esperados tem origem federal. Seriam necessários maiores esclarecimentos sobre em quais desvãos da burocracia há entraves. De outra parte, o Palácio Piratini ainda demonstra não ter conseguido imprimir a agilidade exigida nas obras sob sua responsabilidade, uma dificuldade anterior à enchente. São 17 escolas estaduais que permanecem fechadas, sendo que os estudantes de 15 delas voltaram às aulas em locais alternativos. Chega a 21 o número de colégios com aula remota, híbrida ou em revezamento. São 11 mil estudantes alijados das melhores condições de aprender. Há ainda 215 escolas estaduais sem prazo para o início de reparos ou obras. É uma paralisia perturbadora.
Na área de saúde, as inquietações não são menores, e a falta de atendimento, em certas ocasiões, pode ser fatal. Os hospitais atingidos pela cheia receberam somente R$ 137 milhões dos R$ 550 milhões anunciados, e há situações específicas que demandam maior diligência. É o caso do Hospital de Pronto Socorro de Canoas (HPSC), na terceira cidade mais populosa do Estado. Permanece fechado, deixando de prestar um serviço prioritário e sobrecarregando outras instituições ainda em condições precárias no município, como o Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG), onde faltam desde itens simples como lençóis até insumos fundamentais, como medicamentos. O HPSC é o único estabelecimento do gênero no Estado atingido pelos alagamentos que segue fechado. E o pior: sem perspectivas de reabrir. A prefeitura diz ter solicitado recursos federais, mas ainda segue sem resposta.
Também é surreal a situação do Hospital Roque Gonzales, de Roca Sales, no Vale do Taquari. Os recursos para a recuperação plena das instalações estão no fundo municipal de saúde. Mas a aplicação exige um plano de trabalho, a ser aprovado pelo Conselho Municipal de Saúde. Ocorre que o colegiado está em uma fase de transição não concluída e, assim, não está apto a apreciar o tema. Ao fim, resta inerte, enquanto a população de uma das cidades mais atingidas pelas enxurradas do ano passado e de maio está à espera de atendimento adequado.