São singelas e claras as razões para o governo federal ser o mais exigido em relação a medidas para recolocar o Rio Grande do Sul de pé. É o ente com maior capacidade de mobilizar recursos financeiros, tanto por meio do orçamento da União quanto pelos bancos controlados. Dispõe da maior estrutura para executar políticas públicas e estão sob sua influência áreas e projetos importantes, da infraestrutura à habitação, dos auxílios sociais às grandes obras para reforçar os sistemas anticheias.
O presidente sabe que renovar promessas não é o suficiente e é preciso que o anunciado se materialize
Diante do desafio inaudito de reconstrução, é relevante ouvir outra vez do presidente da República o compromisso com o Estado. Exageros retóricos à parte, foi o que em síntese reiterou na sexta-feira Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, concedida no hotel onde estava hospedado para a quinta passagem pelo Rio Grande do Sul após as trágicas enchentes de maio. Também deve ser reconhecido que, a despeito de saber que seria cobrado e receberia perguntas incisivas endereçadas por Rosane de Oliveira, Andressa Xavier e Giane Guerra, Lula não se esquivou de enfrentar a sabatina.
De outro lado, o presidente da República sabe que renovar promessas não é o suficiente. É preciso que o anunciado se materialize, na forma de recuperação de estradas, concessão de crédito emergencial para os empreendedores, agilidade na entrega de residências definitivas e projetos estruturantes para evitar novas catástrofes. Ter boas intenções não basta, e os gaúchos ainda estão no aguardo de efetividade em relação ao andamento das iniciativas de apoio, até aqui em ritmo aquém do exigido diante da magnitude da destruição no Estado.
O próprio presidente estrila com a burocracia. Sendo assim, deve-se crer que o governo não descansará e continuará a buscar formas legais de contornar entraves nos trâmites para concessão de financiamento adequado às empresas atingidas. Um dado apresentado na semana passada na primeira da série de reportagens de Zero Hora sobre o andamento da reconstrução do Estado em áreas essenciais fala por si: apenas R$ 15,5 bilhões dos R$ 58,8 bilhões prometidos para socorrer empresas chegaram, de fato, à ponta. Mesmo que existam recursos do governo gaúcho neste montante, e o Piratini também deva ser cobrado, a maior parte é recurso federal. Na visita de sexta, Lula entregou recém as primeiras moradias para atingidos pela enchente. Mas o compromisso, reafirmado, é beneficiar todas as famílias que ficaram sem um teto. O jornalismo do Grupo RBS permanecerá atento para reivindicar que todos os compromissos sejam honrados.
O êxito do esforço de reconstrução também requer que os entes federados e suas lideranças se concentrem na tarefa que têm à frente, e não na próxima eleição. Preocupam, pelas consequências práticas que podem ter, os desentendimentos públicos crescentes entre o Estado e o governo federal. Pelo lado do Piratini, verbalizadas pelo governador Eduardo Leite e que agora tiveram resposta de Lula. O que está em jogo não é a política partidária, mas o destino do Rio Grande do Sul. Alimentar divisões capazes de minar a colaboração que deveria existir pode ser desastroso.