Os esforços para retomar as rotinas no Rio Grande do Sul após a enchente de maio ainda serão longos e custosos. Os transtornos vivenciados nos últimos dias em diversos municípios após novos episódios de chuva volumosa são ilustrativos. Mas, aos poucos, a volta de algumas atividades é recebida como um sopro de esperança para os gaúchos. Esse é exatamente o caso da reabertura na segunda-feira da Centrais de Abastecimento do Estado (Ceasa-RS) em sua sede, no bairro Anchieta, na Capital, onde está há meio século. Vale o mesmo para o Mercado Público de Porto Alegre, um emblema de 154 anos da Capital, que há uma semana tornou a receber clientes e visitantes e, na terça-feira, teve mais estabelecimentos retomando as operações.
Ceasa e Mercado Público, por suas importâncias econômicas e simbólicas, de certa forma representam o empenho da sociedade gaúcha, do campo e da cidade, pela reconstrução do Estado
A Ceasa ainda chegou a funcionar de forma improvisada por mais de um mês em Gravataí, na Região Metropolitana. Mas é o retorno para o endereço tradicional que traz alento para o pleno restabelecimento do comércio de verduras, legumes, frutas e de uma infinidade de outros itens da produção primária no Estado. Afinal, passa pelo centro logístico mais da metade de todo o volume de hortigranjeiros vendidos no Rio Grande do Sul.
A central é de vital importância para agricultores familiares e consumidores do Estado. É o principal canal de escoamento da produção das pequenas propriedades de regiões como Grande Porto Alegre, Serra e vales do Taquari e do Caí, algumas das zonas mais atingidas pelas cheias do mês passado, que causaram elevadas perdas na produção primária. Também abastece supermercados, sacolões, restaurantes e feiras livres em dezenas de municípios gaúchos.
Os números da Ceasa são eloquentes. No complexo na zona norte da Capital, estão mais de 4 mil trabalhadores com cadastro ativo, além de 600 carregadores autônomos. São mais de 1,5 mil produtores credenciados para vender seus produtos, além de 300 empresas atacadistas, lancherias, restaurantes, açougues e peixarias. Uma verdadeira cidade, por onde circulam dezenas de milhares de pessoas por dia.
Espírito semelhante de retomada cercou a reabertura do Mercado Público, que passou pela enchente de 1941 e foi castigado pelo incêndio de grandes proporções de 2013. No início da manhã de terça-feira, mais 39 lojas e restaurantes voltaram a receber o público, após mais de 40 dias de portas cerradas devido à inundação do local e depois do penoso trabalho de limpeza e reorganização. São agora mais de 50 negócios funcionando. É menos da metade de todos os empreendimentos existentes no prédio, mas sabe-se que paulatinamente os espaços reabrirão e o Mercado Público voltará a ser um símbolo pulsante do Centro Histórico da Capital e ponto de encontro dos porto-alegrenses.
Ceasa e Mercado, por suas importâncias econômicas e simbólicas, de certa forma representam o empenho da sociedade gaúcha, do campo e da cidade, pela reconstrução do Estado. Ambos os locais ainda não funcionam a pleno. Necessitam de reparos e investimentos para voltar ao que eram. Mas sabe-se que é uma questão de tempo, assim como será com as rodovias, com o aeroporto Salgado Filho, com pequenos e grandes comércios e indústrias espalhados pelo Rio Grande do Sul após a tragédia climática de maio.