Há diferentes estimativas sobre os prejuízos econômicos causados pela cheia e as cifras necessárias para a reconstrução do Estado. Todas sinalizam para um custo de dezenas de bilhões de reais. Seja qual for a soma necessária, o certo é que será uma tarefa árdua e difícil de ser vencida no curto prazo. Da população gaúcha, não se espera nada diferente de uma determinação firme e inabalável para superar os obstáculos impostos, recuperar as perdas e devolver o Rio Grande do Sul aos trilhos do desenvolvimento.
A certeza de dias melhores e a disposição por recomeçar e restabelecer a economia do Estado permanecem inquebrantáveis
Empresários, trabalhadores, poder público e sociedade civil têm diante de si um desafio sem precedentes no país, tamanha a destruição causada pela tragédia climática. Não há dúvida quanto à perseverança e ao espírito irresignado do povo rio-grandense. É tocante ainda a solidariedade emanada de todos os cantos do Brasil e a disposição em colaborar para recolocar o Estado em pé. Por parte do governo federal, ente com maior capacidade financeira para prestar auxílio, aguarda-se que os compromissos assumidos sejam cumpridos. Será necessário acompanhamento constante e cobrança para assegurar que o apalavrado será materializado.
A complexidade do quadro pode ser exemplificada pelo fato de que, mais de três semanas após o início das chuvas que arrasaram parte do Estado, em muitos municípios, como na Região Metropolitana, sequer foi possível contabilizar os prejuízos em residências, indústrias, comércios e estabelecimentos de todo tipo. Será necessário esperar a água recuar para se saber o quanto foi perdido, o que foi salvo e quando será possível retomar a rotina, voltar a produzir, comprar e vender. Além dos cidadãos atingidos, empresas de todos os portes precisarão de fôlego para voltar aos negócios. Significa crédito desburocratizado e em condições ajustadas à gravidade da situação. Se emprego e renda forem colocados em risco, a crise social pode ser maior.
Também é sem paralelo a extensão do estrago na infraestrutura. O trânsito impedido ou dificultado em diversos pontos do Estado por estradas interrompidas ou que ruíram, queda de barreiras e pontes carregadas pela violência das águas elevam os desafios logísticos para a circulação de mercadorias e insumos a níveis nunca antes vistos. Ainda causa perplexidade a informação de que o aeroporto Salgado Filho ficará meses sem operações. O fato de o principal terminal aéreo do Estado permanecer um longo período fechado é um duro golpe nos setores ligados ao turismo.
Há muitas frentes prioritárias, que devem ser atacadas ao mesmo tempo. A busca por recompor a infraestrutura é uma delas. Ao mesmo tempo, capital de giro para as companhias. Mais medidas de respiro fiscal e iniciativas voltadas à manutenção de postos de trabalho, em moldes semelhantes às adotadas ao longo da pandemia, também seriam convenientes. Em um segundo momento, será imprescindível crédito adequado para a recuperação de estruturas físicas e equipamentos das empresas afetadas, entre outras ações sugeridas por entidades e analisadas por diferentes esferas governamentais. Merecerão atenção singular ações que assegurem a competitividade local na atração de investimentos e na manutenção de negócios. Passa a ser uma obrigação do Estado tornar-se um exemplo de adaptação e resiliência às mudanças climáticas, ponto incluído no plano estadual de recuperação aprovado ontem na Assembleia, que terá ainda um fundo financeiro para bancar ações voltadas ao reerguimento do RS.
Os últimos dias têm sido de consternação e dor. Além das mais de 160 vidas perdidas, estas irrecuperáveis, expressa-se desolação pela devastação em residências, propriedades rurais e negócios urbanos. Mas, ato contínuo, nota-se que nem a maior catástrofe climática da história do Estado foi capaz de tirar dos gaúchos a fibra e a convicção da volta por cima. A certeza de dias melhores e a disposição por recomeçar e restabelecer a economia do Estado permanecem inquebrantáveis.