Alfredo Fedrizzi, conselheiro e consultor
“A gente está aqui!”, diziam algumas pessoas entre os milhares de portugueses que estavam na Avenida Liberdade, em Lisboa, no dia 25 de abril, festejando e reafirmando a importância dos 50 anos da reconquista da democracia, a “data mais importante da história de Portugal”. A mobilização, como nunca se viu antes, juntou todas as gerações. Para quem estava lá, como eu, foi emocionante! Senti alegria e admiração ao ver gente de todas as idades cantando “25 de abril sempre, fascismo nunca mais”, com um cravo vermelho em uma mão e um cartaz na outra. Como disse o deputado e historiador português Rui Tavares: “Há 50 anos, o dia 25 de abril amanheceu com ditadura, censura, presos políticos, polícia temida, guerra colonial e, ao fim do dia, já se sabia que, ou tinha acabado, ou tinha que acabar”. Foi o que ele chamou de “a mais bela das revoluções, que inspirou o mundo a iniciar a terceira onda de democratização”.
Naquele dia, os jornais já noticiavam que não estavam mais sob censura. Mulheres distribuíam cravos vermelhos para os militares colocarem nos canos das armas. Na Assembleia da República, os “capitães de abril” (militares que deram o golpe para devolver a democracia ao povo) foram aplaudidos de pé. Peças de teatro, filmes, exposições sobre o tema se espalharam pelo país no mês inteiro. Quando vi esses cuidados com a democracia, senti um sopro de esperança. Podemos viver em liberdade e paz!
Somos muitos e temos condições de construir um país que nos orgulhe, resolvendo os muitos problemas que temos com diálogo e respeito
No Brasil, para que isso aconteça, temos que conversar e fazer um acordo interno para cuidar melhor do país e da vida de todos. Diminuir a concentração de renda e reduzir a pobreza. Precisamos de educação e saúde de qualidade, poder público voltado para as necessidades da população, diminuição dos supersalários e privilégios, combate ao racismo, à corrupção, à violência e pensar como usar melhor a inteligência artificial para melhorar isso tudo. A agenda é enorme, complexa e necessária. Somos muitos e temos condições de construir um país que nos orgulhe, resolvendo os muitos problemas que temos com diálogo e respeito, exigindo que os absurdos que vemos diariamente não aconteçam mais. Cada um em seu pequeno espaço pode e deve fazer a diferença em busca de dignidade.
Durante quase 10 anos, quem me acompanhou aqui sabe que sempre usei esse espaço como um convite a essas reflexões. Agradeço aos que me leram, criticaram, elogiaram, debateram. Procurei trazer temas úteis e provocativos, que pudessem contribuir para o crescimento de todos nós. Enfim, chegou o momento de dizer até logo! Mas seguiremos nos vendo por aí, trabalhando por um mundo melhor.