Diagnósticos corretos são o ponto de partida para buscar as melhores soluções para qualquer problema. É um princípio que também vale para o progresso socioeconômico. Merece crédito, neste sentido, a iniciativa do governo gaúcho de propor a formulação de uma agenda de desenvolvimento para o Estado nas próximas décadas, com a colaboração da iniciativa privada e da sociedade civil. O desafio posto, outra vez, será implementar de fato as iniciativas que forem consideradas essenciais. Não foi por falta de identificação dos entraves centrais, afinal, que o Rio Grande do Sul deixou de resolver seus impasses.
Aguarda-se que a prometida agenda de desenvolvimento produza resultados concretos, pelo bem das novas gerações de gaúchos
O trabalho terá a supervisão da consultoria internacional McKinsey, que de largada já aponta alguns desafios basilares. Um dos principais, sem dúvida, é a demografia do Rio Grande do Sul, Estado brasileiro em que o envelhecimento da população caminha de forma mais rápida. Hoje, cerca de 70% dos gaúchos estão em idade ativa. Em 2060, o percentual cairá para 57%. A força de trabalho vai encolher, o que sempre é um obstáculo para o crescimento econômico.
A solução lógica é colocar as fichas na educação. Um ensino forte forja cidadãos mais instruídos, com conhecimento, habilidades e capacidades. Ou seja, mais produtivos. Formar gente apta a produzir mais riqueza por hora trabalhada, inventiva e adaptável a transformações é um propósito que ganha premência pela constatação de que os avanços tecnológicos são cada vez mais rápidos e a exigência por inovação constante só tende a acelerar. A confirmação de que o Estado terá quantidade menor de crianças e jovens no futuro vai permitir ao menos maior investimento per capita em educação. Está longe de ser a bala de prata, mas permitirá perseguir maior eficiência com esses gastos.
Outra necessidade será a diversificação da economia. Não há dúvida de que o agronegócio, altamente competitivo, é um dos principais motores do desenvolvimento local e ajudou o Rio Grande do Sul a se consolidar como um dos Estados com maior PIB do país. Os últimos anos, porém, testemunham que as grandes variações climáticas também levam grandes incertezas à atividade. Torna-se imperioso desenvolver novas potencialidades, sintonizadas com as tendências globais, como a inteligência artificial. A inovação e um perfil mais tecnológico da indústria surgem como alternativas viáveis devido à própria tradição fabril do Rio Grande do Sul e à característica empreendedora do gaúcho. O Estado tem de produzir com maior valor agregado, aumentando a densidade e a complexidade tecnológica dos itens que fabrica e comercializa.
Capital humano qualificado e uma economia mais digital e moderna são dois lados da mesma moeda. A formação de um ambiente amigável para o surgimento e a atração de empresas de vanguarda, nos mais variados segmentos, é capaz de evitar a evasão de cérebros e, na via inversa, conquistar talentos de outras regiões.
É possível que a população do Rio Grande do Sul comece a entrar em declínio já na próxima década. Não deve tardar também a discussão sobre a necessidade de o Estado atrair mão de obra para outras ocupações. E não apenas sazonais.
Aguarda-se que a prometida agenda de desenvolvimento planejada pelo Piratini produza resultados concretos, pelo bem do Rio Grande do Sul e das novas gerações de gaúchos. Não são poucos os desafios estruturantes. Mas precisam ser encarados desde já, tanto quanto as pautas mais urgentes, como a sustentabilidade financeira de curto prazo.