Alfredo Fedrizzi, conselheiro e consultor
Vinte de março foi mais uma daquelas datas do extenso calendário de comemorações: Dia Internacional da Felicidade. Pela sétima vez consecutiva, a Finlândia foi considerada o país mais feliz do mundo. Vários fatores influenciam: liberdade, generosidade, renda, apoio social e ausência de corrupção. As pessoas se sentem saudáveis e seguras, o que não acontece em grande parte dos países.
Muitos estudos mostram que a solidão cresce silenciosa e rapidamente em toda parte. Há quem diga que a “felicidade começa na solidão”. É inegável que a solidão pode ser boa e nos propiciar um repouso mental ativo, indispensável para a concentração, para surgirem novas ideias e para a contemplação dos nossos mais íntimos pensamentos e sentimentos. Nesse caso, a solidão é saudável. Mas quando se transforma em isolamento, vira um grave problema de saúde pública em muitos países.
Com o trabalho em casa e a busca de mais produtividade, esquecemos a diferença entre tempo livre e tempo de trabalho
É um sentimento que não está relacionado nem à idade, nem ao fato de estar ou não acompanhado. Se antes víamos como normal a solidão na velhice, hoje os jovens também se sentem sós. É uma questão complexa porque o tempo que dedicamos para estar com os amigos se reduziu muito. Nos EUA, três em cada cinco americanos “estão sozinhos”. No Brasil, 36%. É uma epidemia. Não começou, mas se agravou com a covid. Com as portas das escolas fechadas, muitos jovens tiveram suas vidas interrompidas. Tudo passou a ser online. Conhecer as pessoas pela internet era o que bastava, e hoje quando precisam de ajuda ou companhia, as pessoas recorrem às redes. Não pedem aos amigos ou aos pais. Sentem-se mais seguros interagindo por meio da tecnologia, onde, aparentemente, têm mais controle.
Com o trabalho em casa e a busca de mais produtividade, esquecemos a diferença entre tempo livre e tempo de trabalho. Hoje temos menos tempo livre do que tínhamos antes!
As famílias também estão diminuindo cada vez mais. Na Noruega, 50% são formadas por uma única pessoa. Nos últimos 60 anos, duplicou o número de solteiros nos EUA. E famílias que podem dar apoio, se isolam, tornando mais difícil fazer amigos ou conhecer outras pessoas. A busca pela privacidade também contribui para a solidão.
O seriado da Netflix Como viver até os 100 mostra que conviver assiduamente com amigos e familiares está entre os fatores mais importantes para a felicidade e a longevidade. Não tem receita. Mas se nos sentimos amados e apoiados por pessoas que queremos bem, teremos menos probabilidade de doenças cardíacas, depressão, demência ou ansiedade. O amor cura! Cultivar o amor-próprio e construir uma rede de amizades verdadeiras é um belo ponto de partida para desfrutarmos de momentos saudáveis de solidão sem transformá-los em isolamento social.