Segue vivo na memória dos gaúchos o surto de crescimento experimentado por Rio Grande, no sul do Estado, no período do mais recente boom da indústria naval brasileira. A euforia, no entanto, se transformou em frustração há cerca de uma década, quando os reflexos da Operação Lava-Jato e a explosão do endividamento da Petrobras colocaram a pique as promessas de grandes encomendas de navios e plataformas. É bastante provável que o município e as redondezas não venham a ter perspectivas semelhantes. Mas a infraestrutura dos estaleiros e a vocação da região para serviços semelhantes permanecem e abrem novas possibilidades.
Não são poucos os sinais de que novos negócios tendem a impulsionar a economia da região no futuro
A esperança de reerguimento, mesmo que em patamares bem mais modestos, é contada em reportagem de Fábio Schaffner publicada no caderno DOC, na superedição de 9 e 10/3 de Zero Hora. No Estaleiro Rio Grande, que à época se vangloriava de contar com o maior dique seco da América Latina, a expectativa de retomada ocorre não com a construção de embarcações voltadas à indústria petrolífera, mas com um contrato para desmontar uma plataforma para aproveitar o aço em usinas siderúrgicas. Uma segunda estrutura está para chegar à cidade no segundo semestre.
Pode estar aí um nicho a ser explorado. Ao mesmo tempo, o governo federal faz promessas de realizar outra tentativa de reerguer a indústria naval nacional. O compromisso de retomar a exigência de conteúdo nacional em encomendas da Petrobras pode representar uma nova chance para o polo de Rio Grande. Mas é preciso não alimentar ilusões demasiadas. O nível de conteúdo nacional não é igual ao de outrora e, infelizmente, mesmo em décadas ainda anteriores, as tentativas de fazer o país ter grandes estaleiros fracassou.
A mensagem que fica é que a região provavelmente não passará por um período de crescimento vertiginoso de atividade, com mais de 20 mil trabalhadores vindos de todos os cantos do país. Mesmo assim, é possível aproveitar a estrutura, a vantagem geográfica e a aptidão natural para tentar atrair novas encomendas, seja de construção ou de demolição. As promessas podem não ser tão auspiciosas, mas talvez mais próximas da realidade, evitando novas desilusões. Vale o mesmo em relação aos esforços para manter as atividades no estaleiro EBR, na vizinha São José do Norte.
Existem, de qualquer forma, novas possibilidades encorajadoras. Avançam, por exemplo, os estudos relacionados a uma futura produção de petróleo na costa gaúcha. Caso se concretize a viabilidade da exploração, por certo a zona sul do Estado, por sua estrutura portuária, será o epicentro das operações. A geração de energia eólica offshore e a produção de hidrogênio verde também aparecem como alternativas promissoras. Há ainda o projeto bilionário de uma termelétrica a gás em Rio Grande, mas é um projeto que há vários anos espera uma definição da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que não vem. Mesmo assim, não são poucos os sinais de que novos negócios tendem a impulsionar a economia da região no futuro. O importante é que se viabilizem e sejam perenes ao longo do tempo.