Por Rodrigo Pazetto, médico oftalmologista
O trabalho médico, apesar do entendimento livre de cada pessoa, obedece a um método de receber informação (anamnese), identificar o problema (diagnóstico), reconhecer a gravidade e prever como poderá evoluir (prognóstico) e, ao final, criar (ou não) uma ação (tratamento). Após essa sequência, o método médico pode, ainda, propor um acompanhamento da evolução (follow-up).
Historicamente, o médico era visto como a autoridade máxima nesse processo, com o paciente seguindo passivamente essa sequência. Entretanto, com o fácil acesso à tecnologia e à informação, essa dinâmica vem colidindo com promessas de intervenções inovadoras, múltiplas opiniões entre os próprios profissionais – sinal clássico é o paciente chegar ao consultório com a apresentação de múltiplos exames, que, quando impressos, são guardados em pastas de várias cores – e conteúdo que inunda os canais leigos.
É positivo que os pacientes estejam mais envolvidos e interessados em sua saúde. Mas a informação online pode ser enganosa ou incorreta, levando a autodiagnósticos errados
Atualmente, é cada vez mais comum que pacientes cheguem às consultas com opiniões divergentes e informações coletadas na internet. Eles frequentemente apresentam diagnósticos próprios, sugestões de tratamento e até questionam as recomendações médicas com base em suas pesquisas. Esse fenômeno, muitas vezes referido como “cibercondria”, reflete uma era na qual o acesso à informação de saúde é vasto e, por vezes, de qualidade questionável.
Essa nova realidade traz desafios e oportunidades. É positivo que os pacientes estejam mais envolvidos e interessados em sua saúde. Mas a informação online pode ser enganosa ou incorreta, levando a autodiagnósticos errados e à necessidade de desconstrução de uma verdadeira tese para recriar uma maneira assertiva de lidar com um problema real.
Os profissionais de saúde precisam se adaptar a essa nova realidade em que a autoridade é diluída. É essencial que se estabeleça uma comunicação eficaz com o paciente, reconhecendo suas pesquisas e preocupações, mas também educando-o sobre a importância do conhecimento médico especializado. O médico deve guiar o paciente a partir de informações precisas, derrubando mitos e esclarecendo dúvidas. Por fim, os melhores resultados devem ser o foco de ambos.