A explosão de apartamentos num condomínio da zona norte da Capital e a queda de um elevador de cargas em Capão da Canoa, ocorrências recentes que resultaram em mortes e ferimentos de pessoas, não podem nem devem ser encaradas apenas como acidentes. Independentemente das investigações policiais em andamento para apurar responsabilidades nos dois casos, já se pode dizer que tais tragédias poderiam ter sido evitadas a partir de comportamentos individuais e coletivos centrados na valorização e na proteção da vida humana.
Não se trata, evidentemente, de culpabilizar as vítimas, até mesmo porque desastres semelhantes quase sempre afetam pessoas que nada têm a ver com a situação. Trata-se, isso sim, de relembrar pontos de uma campanha de preservação da vida que ganhou força no Estado e no país depois do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria. Na ocasião, com o apoio do Ministério Público do Estado, foram desenvolvidas iniciativas de combate à chamada cultura do desleixo, com orientações constantes aos cidadãos sobre cuidados com a proteção pessoal no exercício de qualquer prática que oferecesse riscos.
O combate à cultura do improviso e do risco deve começar pelo comportamento individual, com educação e orientação sistemática
Infelizmente, a passagem do tempo parece ter fragilizado essa preocupação. É o que se constata nas escolas que funcionam sem Plano de Prevenção e Proteção contra Incêndios, nos andaimes improvisados em obras, nos passageiros do banco de trás que não colocam cinto de segurança, nos motoristas que dirigem falando ou digitando no celular e em várias outras situações de perigo assumidas voluntariamente por pessoas que sempre acham que “não vai dar nada”. Somam-se a esses riscos cotidianos, nos meses de veraneio, a imprudência de muitos condutores de veículos em estradas movimentadas e, principalmente, a insistência de banhistas em frequentar praias de mar e água doce desprotegidas por salva-vidas.
Há, ainda, um fato novo a ser observado em tempos de mudanças climáticas. Com as tempestades cada vez mais frequentes que inundam cidades e afetam as redes de energia elétrica, motoristas e pedestres devem redobrar os cuidados para transitar em áreas alagadas e obstaculizadas. Não é o que se observa rotineiramente. Muitas pessoas preferem correr riscos a esperar que o momento mais agudo da intempérie passe. Nesta semana mesmo, mais especificamente na última terça-feira, um homem foi eletrocutado na zona sul de São Paulo ao tentar descer do carro atingido por um fio de alta tensão.
Vidas perdidas não retornam. Por isso, o combate à cultura do improviso e do risco deve começar pelo comportamento individual, com educação e orientação sistemática para que as pessoas entendam que nem sempre o anjo da guarda de cada um está de plantão. Mas precisa incluir também – e principalmente – organizações coletivas que oferecem produtos e serviços para o público, de modo que não apenas protejam adequadamente seus colaboradores como também se responsabilizem pelos cuidados com os usuários e clientes. Nesse contexto, é essencial que o poder público, em todas as suas instâncias, assuma com firmeza a sua parte no regramento e na fiscalização das normas de segurança.