Alfredo Fedrizzi, conselheiro e consultor
Escrevi este artigo dentro de um barco, pilotado pelo líder Xití, da tribo Nukini, na Amazônia, norte do Acre. Subíamos o rio Boa. Um lugar transbordante de vida!
Foram muitos dias percorrendo estradas, rios, igarapés, ramais, trilhas, conversando com seringueiros, castanheiros, ribeirinhos e indígenas, pesquisadores, professores de pequenas comunidades, para conhecer o que pensam e como vivem. É um lugar que ainda não tem cerca.
Com este encontro com a floresta, me dei conta do quanto estamos distantes dessa conexão com ela. A nossa incapacidade de reconhecer e compreender a floresta é enorme! Hoje tenho a convicção de que não basta ler sobre a Amazônia, necessitamos descobri-la, vivenciá-la.
O conhecimento que adquirimos através dessa experiência de conexão junto à floresta e os povos originários é indispensável para falarmos sobre ela.
Constatei, por exemplo, que seringueiros e indígenas são verdadeiros “plantadores de florestas”: estão constantemente reflorestando suas áreas, com Samaúmas, cedros, castanheiras, seringueiras e frutíferas.
Com este encontro com a floresta, me dei conta do quanto estamos distantes dessa conexão com ela
Noto, com tristeza, que a maioria dos brasileiros pouco ou nada conhecem do que ela representa e por isso não se ocupam em preservá-la. E a maior valorização vem de fora do Brasil, exatamente porque no passado já cometeram os erros que nós hoje estamos fazendo, destruindo suas florestas.
Descobri que existem várias Amazônias: rural (das florestas), urbana, do agronegócio, dos povos da floresta, dos que invadem terras, desmatam, “regularizam” para vender. Cada um com sua realidade, necessidades, solução de seus problemas. Na questão amazônica, não existe solução única. Nem salvador. Existe um conjunto de decisões e providências que precisam ser tomadas rapidamente.
E quase todas passam por intervenções fortes do governo.
A começar pela segurança. O narcotráfico está impregnado na Amazônia, aliciando jovens, usando os rios e propriedades para transportar e/ou armazenar drogas.
Também é preciso mudar visões equivocadas sobre o que é necessário fazer. Nos gráficos oficiais aparece como uma região onde o IDH é o mais baixo do Brasil. Só esquecem de que muito dos recursos naturais que os povos que vivem lá tem não é mensurável.
É muito difícil passar fome. As comunidades são solidárias. A floresta é cheia de gente. Sempre foi. Desde antes do descobrimento. A fome aparece na periferia das cidades, mas não para quem vive nas comunidades.
As ambições são muito diferentes das que conhecemos . As pessoas são simples, vivem bem e não tem grandes aspirações de posse e consumo. Querem qualidade de vida onde moram. E que os filhos estudem. O modelo social é outro.
“ O que realmente compromete a Amazônia é o desmatamento. Porque a Amazônia depende do funcionamento da natureza”, diz Mary Allegretti, uma das pioneiras na defesa de reservas e que conheci quando ela estava fazendo um trabalho na comunidade de seringueiros da Reserva Cazumbá, sobre créditos de carbono, que podem gerar muitos recursos financeiros para eles por preservarem a floresta e assim possibilitando mais qualidade de vida.
Educar para o empreendedorismo consciente, desenvolver novos produtos da floresta, nos darmos conta da riqueza que temos e do quanto ela é essencial para a nossa existência é fundamental e necessário.
A Amazônia é um espaço múltiplo de abundância exuberante, onde empreender e prosperar está intimamente ligado à sua preservação.
É preciso agir para não enxergarmos a floresta quando não tiver mais nada a ver e, só então, avaliarmos o que perdemos.
O encontro com a Amazônia e com os povos originários é um banho onde saímos encharcados de céu, árvores, rios, pássaros, chuva, animais, vento, sol, gente simples e generosa.