Em um ano em que a economia brasileira apresentou uma série de surpresas positivas, preocupa a performance fraca da indústria. O setor é afetado por uma conjunção de fatores externos e domésticos. O desempenho das fábricas destoa do panorama da agropecuária, do comércio e dos serviços. No Rio Grande do Sul, o quadro é ainda mais crítico.
Além das razões que afetam o setor em todo o país, há causas específicas a prejudicar as fábricas do Estado
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), com as suas pesquisas mensais, fornece um quadro bastante acurado. Ao longo do ano, no acumulado de três trimestres, a produção industrial do país tem uma variação negativa de 0,2%. Enquanto isso, o segmento de serviços avança 3,4%, e o do varejo, 1,8%. Mas no Estado, a atividade fabril cai significativos 5,1%. Serviços crescem 6%, e comércio, 2% – em ritmos superiores aos do Brasil.
Além das razões conjunturais que afetam a indústria em todo o país, há causas específicas a prejudicar as fábricas do Estado. Os problemas climáticos, como uma nova estiagem no verão e depois as enchentes, estão entre as principais. Além disso, a manufatura gaúcha tem parte do desempenho vinculado à demanda chinesa, em especial na área de alimentos. No complexo soja, a oferta vem sendo afetada pelas sucessivas secas. Por outro lado, o gigante asiático arrefeceu as compras da cadeia de proteína animal. As importações geradas pela Argentina, que pela proximidade é destino preferencial da indústria gaúcha, também sofrem pelo agravamento da crise econômica no país vizinho. Conforme a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs), as exportações do setor decrescem 3,4% no ano, até outubro.
Em relação ao ambiente macroeconômico nacional, o patamar ainda elevado do juro é um obstáculo relevante. Uma parte considerável da indústria gaúcha é voltada à produção de bens de capital. São itens de maior valor, adquiridos como um investimento, e taxas elevadas nas operações de crédito são sempre um elemento desestimulador. Mesmo que esteja em curso hoje um ciclo de corte da Selic, agora em 12,25% ao ano, ainda é um nível elevado. Os efeitos do afrouxamento da política monetária costumam demorar alguns meses para serem sentidos na ponta.
A aquisição de máquinas e equipamentos por outras empresas também é estreitamente vinculada à expectativa de dias melhores na economia. No momento, porém, os receios ganham terreno. O Índice de Confiança da Indústria (ICI), apurado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), teve em outubro a quinta queda consecutiva. No Estado, em particular, a possibilidade de elevação das alíquotas de ICMS é uma nova dor de cabeça.
Nas sondagens, também é reincidente a preocupação quanto à responsabilidade fiscal do governo federal. Ainda há o temor de que o Palácio do Planalto jogue a toalha quanto à meta de déficit zero em 2024 e, assim, o ciclo de corte de juro acabe antes do ideal. Menos mal que, nos Estados Unidos, há sinalização de que o período de aperto monetário pode ter chegado ao fim, o que também ajuda o trabalho do Banco Central por aqui. Mesmo assim, ainda é basilar que o país mostre disciplina com as contas públicas, para evitar deterioração das expectativas.
Ao mesmo tempo, aguarda-se que a economia mundial deixe o período de crescimento mais fraco para trás e a Argentina, com um novo governo, consiga se reerguer. Assim, o setor – que paga os melhores salários e é uma das principais fontes de inovação no país – poderá ter esperanças mais palpáveis em uma retomada consistente e duradoura. Um dos trunfos, nos próximos anos, será a reforma tributária, que trará benefícios ainda mais nítidos para a indústria, o segmento mais prejudicado pelas distorções do sistema hoje vigente.