Por Fabio Brun Goldschmidt, advogado tributarista
Mostar é uma pequena e romântica cidade do interior da Bósnia, que tem na ponte do século 16 o seu principal atrativo turístico. Sua arquitetura balcano-islâmica possui uma beleza simples e atrai turistas de todo lado. Passei por lá pedalando e aprendi que foi destruída durante a Guerra da Bósnia, tendo o tribunal das Nações Unidas considerado ilegal sua destruição, dadas as diminutas vantagens militares decorrentes. O ataque havia se dado com finalidades principalmente morais, de destruição de um símbolo para os muçulmanos da região. A ponte, contraditoriamente, escondia uma enorme desunião entre cristãos ortodoxos e praticantes da religião islâmica, encontrada na raiz da guerra e não bem resolvida até os dias de hoje.
A Bósnia é um dos sete países resultantes da desintegração da Iugoslávia. Lá se fala bósnio. Na Croácia, croata. Na Eslovênia, esloveno. Em Montenegro, montenegrino. Na Sérvia, sérvio. Na Albânia, albanês. Na Macedônia, macedônio. Não fica difícil entender a dificuldade de união desses povos.
Agora, o mundo assiste tenso à guerra entre Israel e Palestina. E a única pergunta de resposta impossível é: qual a causa da guerra? As motivações são tantas e tão enraizadas nas cabeças dos dois lados que é pouco crível uma solução de estabilidade perene. Viverão para sempre sob a iminência de um novo estopim que traga à tona todo o passado de dor e conflito.
As motivações são tantas e tão enraizadas nas cabeças dos dois lados que é pouco crível uma solução de estabilidade perene
Nessas horas sempre penso em como somos privilegiados por aqui. No Brasil, temos a sensação de garantia perpétua de paz externa e interna. De convivência harmônica entre todas as etnias e religiões, inclusive árabes e judeus, que aqui respeitam suas diferenças e a lei. No Brasil, vive-se com alegria e união. Temos um só povo e não um amontoado de grupos em constante tensão. Falamos uma só língua e todos se entendem como brasileiros, sem outras divisões. Nosso povo é vibrante, pensa positivo e é mundialmente reconhecido por seu jeito alegre de levar a vida, características que são consequências diretas dessa paz e estabilidade. Não carregamos mágoas profundas, históricas, como a Europa, parte da África e o Oriente Médio. Ainda que se reconheça a existência de racismo, ele está longe de provocar conflitos armados entre integrantes da própria sociedade, movimentos políticos racistas ou legislações discriminatórias. E embora tenhamos insegurança, ela não é inerente aos próprios blocos constituintes da sociedade, podendo ser superada por uma gestão competente do poder público. Depois de viajar por quase 80 países, posso dizer que temos o melhor passaporte do mundo. Ninguém odeia o brasileiro. E disso não podem se gabar tantas outras nações.