Os semicondutores se tornaram o insumo industrial mais estratégico do mundo. Estão presentes em todo tipo de equipamento, veículo, máquina e dispositivo eletrônico. Não à toa, tornaram-se ponto central na disputa geopolítica entre Estados Unidos e China, as maiores economias do planeta. A batalha tecnológica travada pelas duas nações chega ao ponto de não ser descartada até a possibilidade de transbordamento para um conflito armado. A guerra hoje comercial e diplomática tem como epicentro Taiwan, que concentra a produção de chips e ao mesmo tempo que é reivindicada pelos chineses como parte de seu território tem forte presença militar norte-americana.
No Estado, há um bom tempo nota-se o esforço para formar um ambiente receptivo, capaz de permitir imaginar o surgimento de um cluster na área
O grau de tensão mostra a importância de se dominar o conhecimento e a produção dos semicondutores. Países que pretendem modernizar a sua matriz econômica não podem prescindir de encontrar meios para participar dessa corrida. No caso do Brasil, o Rio Grande do Sul pode ser considerado um expoente nessa área. Há empresas consolidadas, como a HT Micron, e outras que se instalaram há pouco no Tecnopuc, como a norte-americana Impinj e a britânica Ensílica. O pioneirismo, como se sabe, veio com a Ceitec, conhecida como a estatal do chip. As dificuldades de a empresa se sustentar com as próprias receitas levaram à tentativa de liquidar a companhia, mas o governo Luiz Inácio Lula da Silva reverteu a posição e tem a intenção de reativá-la de alguma forma, por considerá-la estratégica.
O governo gaúcho lançou na terça-feira o programa Semicondutores RS. Anunciou investimento de R$ 70 milhões até 2026, incluindo aí outras atividades ligadas à tecnologia. Ao que parece, de forma mais direcionada há dois editais: um de R$ 3 milhões, voltado à capacitação de projetistas de circuitos integrados, e outro, ainda não publicado, de R$ 6 milhões, para incentivar a conexão entre universidades e mercado. Valores à parte, são passos na direção correta. Há ainda incentivos fiscais envolvidos.
São bem-vindas as iniciativas direcionadas ao fortalecimento do ecossistema voltado ao desenvolvimento de semicondutores no Rio Grande do Sul. Dificilmente o Estado teria condições de concorrer com a Ásia em termos de produção em larga escala, pela diferença de custos. Mas faz todo o sentido apostar na formação e na capacitação de capital humano, design, concepção, testagem ou manufatura para pequenos nichos. As universidades gaúchas, preparando profissionais em áreas afins, têm desempenhado um papel relevante nesta sinergia com empresas do setor.
Como negócio, a Ceitec mostrou-se um insucesso. Mas é inegável que, ao longo do tempo, habilitou profissionais com domínio da tecnologia que hoje estão espalhados pelo país e pelo mundo empregando os seus conhecimentos e capacidades.
A estatal pode ser ao menos estrategicamente viável se enveredar por essa linha de preparar indivíduos para que o setor de semicondutores possa ter futuro no Brasil, em especial no Rio Grande do Sul. No Estado, há um bom tempo nota-se o esforço para formar um ambiente receptivo, capaz de permitir imaginar o surgimento de um cluster na área. Ter disponibilidade de cérebros é um diferencial competitivo importante. O conhecimento e a disposição de inovar são a grande matéria-prima para desenvolver o segmento. Quando academia, empresas e setor público se unem, as chances são maiores.