Por Gabriela Ferreira, consultora em inovação e professora da PUCRS
Estamos todos preocupados com a tecnologia e com o risco de ela nos substituir, especialmente no trabalho. E o fato é que, mesmo que as principais habilidades do futuro sejam bem humanas, como criatividade, liderança e pensamento crítico, outras, como solução de problemas complexos e uso da tecnologia, estão sendo, gradativamente, desenvolvidas pelas máquinas. Com o crescimento da inteligência artificial e a capacidade de aprendizagem – mesmo que seja de máquina –, muitas funções estão realmente correndo o risco de ser dominadas pelos robôs.
O que você acha de um futuro em que seu salário seja 52% menor?
E o que será que vai acontecer no futuro? Imagine um mundo onde seu salário pode chegar a ser 20% inferior. E, se for um cargo de liderança, a diferença é ainda maior, podendo ser 34% mais baixo no mundo e 52% menor se você morar no Brasil.
Imagine que 50% da população da América Latina em idade produtiva ficasse sem acesso ao mercado de trabalho. Imagine se, mesmo com muito mais estudo formal, os seres humanos tivessem que esperar até o ano de 2154 para ter igualdade de condições no mercado de trabalho. E se, além de salários inferiores, as pessoas ainda deparassem com obstáculos em algumas áreas, como na tecnologia, e acabassem ocupando apenas 19% dos cargos disponíveis. E se, em países pobres do mundo, 25% da população que estivesse procurando emprego não conseguisse colocação? Pense como seria o mundo se, mesmo no serviço público, em que o acesso se dá por meio de concursos, essa diferença existisse, em detrimento das pessoas? Seja por pressão social – você não é boa o suficiente –, seja por oportunidades não igualitárias em cargos específicos.
E se, além de todo esse cenário de desigualdade, as pessoas tivessem, no máximo, 77% dos direitos trabalhistas respeitados?
As pessoas estão, com razão, muito preocupadas com a sua condição em um mundo do trabalho que, cada vez mais, está sendo ocupado por máquinas. Porém, só a preocupação não basta. Se não forem pensadas soluções concretas e efetivas para as ameaças que existem à condição humana, alarmar-se com o problema não vai resolvê-lo.
O cenário descrito neste artigo já afeta, atualmente, 2,4 bilhões de pessoas em idade produtiva no planeta e quase a metade da população mundial. Isso acontece hoje, aqui, agora. É esse o risco que existe toda vez que uma pessoa nasce mulher.
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* Fonte dos dados: Fórum Econômico Mundial, Catho, Banco Mundial, Organização Internacional do Trabalho, CEGOV.