Por Nelson P. Sirotsky, publisher e membro do Conselho Editorial da RBS
Durante uma recente confraternização com os profissionais da Rádio Gaúcha, para celebrar os 100 meses ininterruptos de liderança absoluta de audiência na Grande Porto Alegre, relembrei um episódio marcante para mim, por ter visto uma crítica ser transformada em uma vaia pessoal. Desde já, esclareço que não sou contra críticas. Pelo contrário, acredito que também cumprem o papel de ajudar pessoas e empresas a evoluírem.
Receber críticas e elogios é natural no nosso dia a dia, e os encaramos como oportunidade de reflexão e aprimoramento
Nos anos 1980, durante uma longa greve do magistério, eu estava numa reunião no Palácio Piratini, quando claramente o então governador Pedro Simon – que respeito e admiro muito – manifestou desconforto com a cobertura jornalística que a Rádio Gaúcha e outros veículos da RBS vinham fazendo do movimento. Na saída, um dos manifestantes gritou no megafone: “Olha lá, o Sirotsky da RBS!”. Imediatamente, uma vaia retumbou na Praça da Matriz. De volta à RBS, compartilhei o que tinha ocorrido com o comitê editorial à época, e concluímos que a relevância dos fatos justificava a dimensão da nossa cobertura.
Na mesma linha, quando o Grêmio disputou o Mundial de Clubes, em Tóquio, a RBS fez uma das maiores coberturas esportivas até então. Nem todo mundo gostou: disseram que foi dado grande destaque porque os acionistas da empresa eram torcedores do Grêmio. Pois bem. Quando chegou a vez de o Internacional ir ao Japão disputar o Mundial, houve igualmente uma grande mobilização do esporte da RBS. Uma parte do público considerou aquela cobertura exagerada e de maior proporção do que a realizada para o Grêmio. Todos nós sabemos o significado que Grêmio e Internacional têm para nós, gaúchos...
Durante o seu governo, Jair Bolsonaro recusou pedidos de entrevista dos veículos da RBS. Recentemente, o ex-presidente esteve em Porto Alegre e aceitou conceder uma entrevista para a Rádio Gaúcha. Parte do público criticou a RBS por considerar demasiado espaço para Bolsonaro. Dias depois, o presidente Lula falou ao microfone da Gaúcha. Muitos ouvintes enviaram críticas, insatisfeitos com o grande espaço dado ao atual presidente.
Receber críticas e elogios é natural no nosso dia a dia, e os encaramos como oportunidade de reflexão e aprimoramento. No entanto, também é verdade que, com serenidade e respeito, não devemos nos submeter a pressões apaixonadas, seja de qual público for.
Jamais me esqueci daquela vaia, porque ela é um lembrete de que o compromisso maior do jornalismo profissional é com os fatos e sua relevância, levados ao público com qualidade, independência e pluralidade. É impossível agradar a todo mundo o tempo todo. Afirmo com segurança que manter esse compromisso define a preferência do público, como mostra a sólida audiência da Rádio Gaúcha que celebramos nos últimos dias.