Uma das primeiras iniciativas da pasta da Saúde sob a gestão ministra Nísia Trindade foi anunciar, no começo do ano, uma ação para diminuir a espera angustiante de centenas de milhares de pessoas que aguardam por cirurgias eletivas pelo SUS. É uma fila que cresceu de forma substancial no decorrer do período mais agudo da pandemia. Foi o resultado de uma circunstância incontornável. Grande parte da atenção dos hospitais e dos profissionais da área esteve voltada ao combate da emergência sanitária. Agora, parece enfim estar chegando o momento de começar a dar uma resposta efetiva a esse problema.
Os dados atualizados mostram que o Rio Grande Sul é um dos Estados com o maior número de beneficiários com cirurgias eletivas atrasados. São 180 mil intervenções represadas, quantidade superada apenas por Goiás e São Paulo. O governo gaúcho já recebeu do governo federal R$ 10,7 milhões para dar início ao mutirão. É a primeira das três parcelas, que totalizam R$ 32,2 milhões, com previsão de serem usados ao longo deste ano. Os recursos iniciais, agora, serão liberados para os hospitais gaúchos à medida que forem assinados os termos aditivos para a prestação dos serviços. A Secretaria Estadual da Saúde (SES) informa que não tem prazo estipulado para finalizar a parte burocrática, mas se espera que esteja em curso um grande esforço para esta etapa ser vencida rapidamente e a população começar a ser atendida o mais breve possível.
Em muitos casos, trata-se de recuperar a qualidade de vida, mas em outros o que está em jogo é a vida
Em saúde, um problema que poderia ter solução relativamente simples e com tratamento com grandes chances de sucesso se agrava se não tem a devida atenção no momento adequado. Em situações mais graves, o desfecho pode ser fatal. É o caso, por exemplo, de exames para detectar câncer, nos quais o tempo é essencial. O mesmo vale para várias especialidades de cirurgia. Mas as filas são imensas. Em reportagem publicada na sexta-feira em Zero Hora, o secretário de Saúde de Canoas, Felipe Martini, revelou que, no município, há casos de cidadãos que aguardam desde 2017.
São 51 hospitais no Rio Grande do Sul que fazem parte do Plano Estadual de Redução das Filas. A SES observa que, enquanto esperam a distribuição dos recursos, agora uma questão de tempo, as instituições já podem começar a se organizar para dar início às cirurgias. Um bom exemplo é o do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), na Capital, que desde o mês passado já está convocando pacientes e realizando os procedimentos.
O Programa Nacional de Redução das Filas de Cirurgias Eletivas, Exames Complementares e Consultas Especializadas (PNRF) tem reservados cerca de R$ 600 milhões para serem utilizados ao longo deste ano em todo o país. Os recursos distribuídos neste primeiro momento às unidades da federação chegam a R$ 200 milhões, e o restante terá a divisão feita de acordo com o ritmo da demanda. Apenas os Estados que aderiram à iniciativa têm uma fila de 679 mil procedimentos. No Rio Grande do Sul, as maiores demandas são por intervenções oftalmológicas, cirurgias gerais e de traumatologia.
Como o período de atenção prioritária à pandemia passou e há recursos reservados pelo governo federal para a tarefa, passa a ser dever de gestores públicos e dos hospitais encontrarem meios de fazer finalmente a fila fluir. Há muito por fazer. Estima-se que a primeira remessa de R$ 10,7 milhões seja suficiente para suprir apenas 16% dos procedimentos represados. Por trás dos números frios existem pessoas que têm direito a um atendimento digno de saúde, dependem exclusivamente do SUS e padecem de uma longa e aflitiva espera. Em muitos casos, trata-se de recuperar a qualidade de vida, mas em outros o que está em jogo é a vida.