Por Gabriela Ferreira, consultora em inovação e professora da PUCRS
Calma, não precisa tanto para ler este artigo. Considerando todas as demandas que temos, e o pouco tempo, usar 15 minutos para isso parece demais. Mas que tal levar 15 minutos para deslocar-se até o trabalho, chegar até a escola do seu filho ou ao supermercado? E eu estou falando de 15 minutos a pé, não de carro ou ônibus.
Até 80% das ruas das grandes cidades são ocupadas por veículos que ficam 95% do tempo estacionados
Seria um sonho? Pois é esse sonho – que alguns chamam de utopia – a proposta da cidade de 15 minutos, o conceito que vem ganhando adeptos em todo o mundo, e inclusive já foi objeto de estratégias e investimentos em lugares como Ottawa, Detroit, Barcelona e Madri, onde até 80% das ruas são ocupadas por veículos.
De forma resumida, isso significa em uma cidade ser possível ter acesso aos serviços relevantes para o dia a dia – trabalhar, ter aulas, ir a restaurantes, participar de atividades culturais e acessar outros serviços necessários –em 15 minutos, caminhando ou de bicicleta.
Embora tenha ficado mais conhecido na pandemia, esse tema é antigo. A maior referência tem algumas décadas e trata-se da urbanista canadense Jane Jacobs, que defende espaços urbanos compactos, vivos e mais ‘caminháveis’. Hoje, sua principal referência é o colombiano radicado na França Carlos Moreno, professor de empreendedorismo, território e inovação da Universidade de Sorbonne. Ele é conhecido não só por defender a ideia, mas especialmente por ser assessor de Anne Hidalgo, prefeita de Paris, para sua implantação.
É claro que não faltam as teorias da conspiração, afirmando que se trata de uma forma de confinamento e até “prisão” das pessoas em locais restritos, assim como algumas mais preocupadas falando em gentrificação. O assunto é complexo e eu não sou urbanista, mas o que quero aqui é refletir sobre uma possibilidade.
Não é sobre evitar que as pessoas se desloquem nas cidades, mas sobre elas não serem obrigadas a isso, se não quiserem, otimizando seu tempo e reduzindo a poluição. Não é sobre proibir carros nas cidades, mas sobre promover outros modais de transporte mais inclusivos e saudáveis. Não é sobre segmentar o consumo, mas sobre garantir a viabilidade dos pequenos negócios. Não é sobre restringir atividades, é sobre garantir que todas as pessoas possam viver, no seu dia ou semana, todas as dimensões consideradas importantes para ser um ser humano saudável. É sobre usar seu precioso tempo de forma útil e prazerosa.
Enfim, é sobre promover a grande inovação de desenhar cidades para o bem-estar das pessoas. Você tem 15 minutos para pensar sobre isso?