A sociedade brasileira se dedica, nas últimas semanas, a debater as razões e a discutir as melhores alternativas para dar fim à recente onda de ataques a colégios. As conclusões, até agora, apontam que as soluções são complexas e passam por compreender as múltiplas faces que geram o fenômeno. Na tentativa de contribuir para encontrar essas respostas, foi realizado ontem o Painel RBS Segurança nas Escolas: Caminhos para a Prevenção da Violência.
É uma tarefa para as famílias e instituições de ensino, buscando criar um ambiente que, ao lado da aprendizagem, possibilite o estabelecimento de relações sadias
Mediado pela apresentadora Cristina Ranzolin, o evento foi uma parceria do Grupo RBS com o Hospital Moinhos de Vento e reuniu especialistas em diferentes abordagens relacionadas ao tema que hoje inquieta a comunidade escolar, as famílias e o poder público. O que se viu, não apenas no Rio Grande do Sul, nos últimos dias, foi o aumento do policiamento ostensivo para elevar a sensação de segurança da sociedade, especialmente após o ataque a uma creche de Blumenau (SC). Embora necessária para o momento, essa não é a solução estrutural esperada.
Como mostrou o Painel RBS, os melhores caminhos passam por uma atenção mais adequada das escolas para detecção e resolução de conflitos, cuidados com questões psicossociais e capacitação de professores para intervir de forma precoce em casos que possam se agravar. Mas, ao mesmo tempo, sublinhou-se uma indispensável mudança de postura nas famílias. Chamou-se atenção especialmente para a necessidade de os pais ampliarem o diálogo com os filhos, saberem dos conteúdos acessados por eles na internet e, dentro do possível, terem conhecimento sobre conexões com outras pessoas estabelecidas por redes sociais e outros meios virtuais.
O que pode parecer uma intromissão na intimidade é, na verdade, uma proteção para crianças e adolescentes, evitando que tenham contato com mensagens de ódio que possam levar à radicalização. Isso passa por um restabelecimento de relações no seio do lar. É preciso evitar terceirizar às tecnologias o cuidado com os filhos e, junto a isso, os pais têm de rever a mentalidade de considerar a escola apenas como uma prestadora de serviços na área de ensino. É recomendado maior envolvimento.
O poder público tem anunciado uma série de iniciativas para enfrentar esse problema. O governo federal, por exemplo, informou na terça-feira que pretende liberar R$ 3 bilhões para escolas investirem em infraestrutura e atendimento psicossocial. Estados e municípios também se debruçam sobre a questão. O certo é que se fiar apenas no aumento do policiamento é um equívoco, apesar de ter sido indispensável em dias como ontem, após grande boataria sobre ataques previstos para 20 de abril. Mas não é uma alternativa viável a longo prazo, inclusive pelo efetivo insuficiente de policiais.
O mais eficiente, apontam os especialistas, é trabalhar em uma cultura de promoção da paz, de incentivo ao diálogo e dar atenção à saúde mental de uma geração que passa tempo demais enclausurada em seus quartos, com os olhos grudados em telas de eletrônicos. É uma tarefa para as famílias e instituições de ensino, buscando criar um ambiente escolar que, ao lado da aprendizagem adequada, possibilite o amadurecimento social e o estabelecimento de relações sadias.