Por Michel Gralha, advogado
Há anos, quando eu participei do processo de seleção para ingressar na faculdade, tive uma série de desafios. Lembro dos dias estudando para ingressar em um curso que eu nem sabia direito se contemplaria meus anseios. No meio do caminho, inclusive, alterei o rumo e hoje me sinto muito realizado na minha profissão. Lembro dos cursinhos, das matérias e dos conhecimentos gerais que obtive e que me são úteis até hoje.
Passamos, mais uma vez, para a parte mais perigosa, formar uma horda de jovens levados a silenciar suas crenças para acertar uma questão
Sei que nosso sistema de ensino já não é mais o mesmo. As tendências modernas tornaram a decoreba menos importante. Não discordo, mas sempre me pergunto se a disciplina em aprender a tabela periódica não forjou a minha resiliência em aceitar adversidades profissionais. Enfim, muita coisa mudou e, no meio do caminho disso tudo, ainda temos o polêmico debate partidário nas escolas.
Aliás, tema extremamente importante, pois não podemos, sob nenhuma hipótese, tornar nossos bancos escolares celeiros políticos, pois jovens em construção devem evitar influências externas daqueles que são responsáveis pela sua formação intelectual. Tema antigo, que se renovou na minha cabeça quando tive acesso a uma prova do simulado nacional do Enem, baseado, segundo os responsáveis, no “estilo de cobrança do Enem”.
Impressionante o viés político-partidário de várias questões. Conceitualmente, o exame é feito para quem bebeu da fonte de Marx e de Gramsci, entre outros. Imagino a dificuldade daqueles que puderam estudar Ayn Rand ou Bastiat procurando a alternativa correta?! Esqueçam, não encontrarão. A simulação privilegia tópicos conceituais, sem nenhuma necessidade de conhecimento técnico, levando, única e exclusivamente, nossos alunos à enfadonha discussão do “nós contra eles”.
Se isso realmente reflete a realidade, perdemos uma chance mínima de avaliar a qualidade do ensino e dos nossos professores. Passamos, mais uma vez, para a parte mais perigosa, formar uma horda de jovens levados a silenciar suas crenças para acertar uma questão e não “brigar” com colegas ou mestres. Importante estarmos atentos, pois tais testes podem refletir a realidade que está presente nas salas de aula do Brasil. Se perdermos a base, nosso desafio será ainda maior.