O terceiro governo Lula chega aos seus primeiros cem dias nesta segunda-feira com muitas indefinições e poucas realizações, mas continua contando com o apoio da maioria dos brasileiros que optaram pela visão mais democrática e humanitária entre as duas apresentadas ao país na última eleição presidencial. As principais pesquisas de opinião sobre esse início de administração apontam na direção detectada pelo Instituto Datafolha, que registra 38% de aprovação e 29% de reprovação ao final dos três primeiros meses de mandato.
Resta esperar que o presidente controle seu voluntarismo, amplie o diálogo e adote soluções pragmáticas
O período examinado é insuficiente para qualquer avaliação conclusiva, mas costuma ser visto como uma amostra do que tende a ocorrer nos quatro anos da administração. Assim considerado, o atual governo petista ainda está aquém das expectativas, principalmente em duas das três áreas essenciais para a governabilidade e para o desenvolvimento da nação – a econômica e a política. Tem melhor performance na área social.
Na economia, o que se evidencia é uma preocupante estagnação: juros elevados, inflação crescente, alta taxa de desemprego e nenhum estímulo significativo ao setor produtivo. Na política, mesmo fortalecido pela reação unânime das instituições ao ataque antidemocrático de 8 de janeiro, o governo sequer conseguiu uma maioria sólida no Congresso para levar adiante projetos necessários que ainda nem enviou ao parlamento devido ao bloqueio das medidas provisórias. Só no campo social houve avanços, com a reorganização dos programas de distribuição de renda, iniciativas centradas na diversidade e ações de preservação ambiental.
O país esperava mais do senhor Luiz Inácio Lula da Silva, que alternou bons e maus momentos nestes primeiros meses da nova administração. Com habilidade, firmeza e bons interlocutores, ele uniu os poderes da República, acalmou as Forças Armadas, promoveu políticas de proteção aos indígenas, combateu a discriminação racial e restabeleceu relações diplomáticas abaladas na administração anterior. Ao mesmo tempo, porém, demonstrou ambiguidade na condução da política externa ao se omitir sobre violações de direitos humanos por ditadores de esquerda. E, no âmbito interno, causou desconforto e abalo no mercado por conta de polêmicas desnecessárias com o presidente do Banco Central e com o ex-juiz e atual senador Sergio Moro, devido a declarações insensatas e destoantes da realidade.
Mas a maior incerteza dos primeiros cem dias do terceiro governo Lula é o atual impasse econômico do país. Diante de uma situação complexa, o presidente continua dando margem à desconfiança dos setores produtivos por suas manifestações simplórias e descontextualizadas que contrastam com as estratégias austeras de seus ministros, como indica o recém-concluído projeto da âncora fiscal, prestes a ser encaminhado ao Congresso. Na última quinta-feira, ao fazer um balanço dos primeiros meses de governo durante entrevista coletiva, Lula insinuou que basta alterar a meta da inflação com uma canetada para a economia voltar a crescer.
Infelizmente, não é bem assim, embora economistas e gestores públicos e privados se dividam sobre a questão. Porém, ninguém ignora que o país lutou muito para controlar a inflação, razão pela qual deve ter muita cautela para revisar o que já conquistou. Resta esperar que o presidente controle seu voluntarismo, ouça seus ministros, amplie o diálogo com setores envolvidos no assunto e adote soluções pragmáticas que assegurem a estabilidade para a economia do país e para seu governo.