Por Michel Gralha, advogado
Há um ano, o mundo se assustava com o início de mais uma guerra. Impressionante como, em pleno século 21, poderíamos conviver com um país invadindo o outro, bombardeando prédios, matando civis, sem qualquer ressentimento.
Não há bem maior que a nossa forma livre de viver, e o inimigo nem sempre é tão evidente
Atos que sempre foram inaceitáveis e deveriam ser rechaçados por qualquer líder mundial. Uma guerra traz consequências para todo o mundo, mas nada se compara a quem está vivendo isso. Espantoso como as pessoas têm a capacidade de achar que podem colonizar o outro, que podem, à força, acabar com uma nação.
Na época, manifestei minha opinião sobre o conflito, e muitos discordaram, disseram que a Ucrânia deveria se entregar, deveria entender que a Rússia era mais forte e que não valia a pena resistir. Infelizmente, não conseguiam perceber que o enfrentamento não se dava por território. A luta diária, até hoje, se dá por liberdade, se dá pelo direito de as pessoas permanecerem onde estão por vontade própria, se dá porque ninguém, sob nenhuma hipótese, ainda mais pelo uso da força, pode dizer a você o que pode ser feito e para onde você pode ir.
Povo sem esses direitos na sua plenitude é um povo dominado, subjugado e infeliz. Após tantas mortes e perdas, os ucranianos continuam lutando, levando a sua rotina entre escombros emocionais e físicos. Mas façamos um exercício hipotético: imaginem se eles tivessem se entregado lá no início? O que seria do cotidiano dessas pessoas? O que estariam passando? Mesmo após um ano de resistência, isso não é cogitado por aqueles que seguem em combate e entregam suas vidas por um país livre para as próximas gerações. Inimaginável manter-se assim, com bombas caindo nos quintais e as pessoas lutando para não se entregarem. Triste, terrivelmente triste – e que possa servir de lição para todos.
Não há bem maior do que a nossa forma livre de viver, e o inimigo nem sempre é tão evidente quanto numa guerra entre nações. Nas nossas vidas, a liberdade pode ser tolhida, de uma vez só ou aos poucos, sem que nós sequer percebamos ou reajamos, e o que é pior, com nossa conivência e apoio.