Ao antecipar o anúncio dos primeiros ministros de seu governo para sexta-feira, em vez de esperar para fazê-lo após a diplomação como pretendia, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, procurou acalmar o mercado financeiro e tranquilizar áreas sensíveis como as Forças Armadas. Mas também fez questão de destacar que os novos ministros, até então integrantes da equipe de transição comandada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, estão comprometidos com a transparência, que promete ser a marca da sua administração.
A confirmação de cinco ministros de pastas importantes e as justificativas apresentadas para as escolhas talvez não sejam suficientes para desfazer tensões e dúvidas sobre um governo que assume pedindo licença ao Congresso para gastar mais do que o orçamento permite. Mas as justificativas são plausíveis, tanto para a despesa assumida com programas sociais prometidos por todos os candidatos na campanha eleitoral – e, mais do que isso, necessários e urgentes para enfrentar a extrema pobreza de parcela significativa da população – quanto pela urgência da sociedade brasileira em conhecer os futuros ministros.
A confirmação de cinco ministros de pastas importantes e as justificativas apresentadas para as escolhas talvez não sejam suficientes para desfazer tensões e dúvidas
Dois setores especialmente delicados do país já sabem agora com quem lidar: o mercado financeiro e produtivo, que terá de se relacionar com o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação Fernando Haddad, confirmado para o Ministério da Fazenda; e os integrantes das Forças Armadas, que ficarão sob o comando do ex-deputado e ex-ministro do Tribunal de Contas da União José Múcio Monteiro, agora ministro da Defesa.
Haddad não era o desejado pelos agentes econômicos, que preferiam um técnico sem maiores vinculações políticas e partidárias. Mas é homem de confiança do presidente e já demonstrou, como prefeito e ministro, que sabe se cercar de pessoas habilitadas para o trabalho que precisa exercer. A tarefa do ex-ministro Múcio Monteiro não é menos espinhosa, tanto que ele já promoveu a primeira reunião com os comandantes das três forças militares para estabelecer uma estratégia de transição que não aumente o desconforto da caserna com a eleição de Lula e, ao mesmo tempo, garanta a despolitização das corporações fardadas, estimulada no governo Bolsonaro.
Os três outros ministros anunciados não provocaram surpresas: o governador da Bahia, Rui Costa, já era cotado como favorito para a Casa Civil; o senador e ex-governador do Maranhão Flávio Dino também dependia apenas da confirmação para assumir a pasta da Justiça; e o diplomata e ex-chanceler Mauro Vieira, antigo colaborador de Lula, ficou com o Ministério das Relações Exteriores.
Flávio Dino também terá uma tarefa difícil na largada de sua gestão, anunciada com franqueza tanto por ele quanto pelo presidente na cerimônia da última sexta-feira: apaziguar a Polícia Federal e devolvê-la ao papel constitucional que sempre exerceu com plena autonomia, antes de ser instrumentalizada pelo atual governo.