Por Gabriela Ferreira, consultora em inovação e professora da PUCRS
Embora as cidades ocupem menos de 2% da superfície da Terra, de acordo com a ONU Habitat, elas são responsáveis pelo consumo de 78% da energia mundial e pela produção de mais de 60% das emissões de gases de efeito estufa. Estima-se que em 2050, mais da metade população do planeta, que será de aproximadamente 9,7 bilhões de pessoas, deva morar nas cidades.
Em função disso, e considerando os graves problemas que as cidades já têm atualmente, é crescente a preocupação de técnicos e gestores, públicos e privados, no sentido de entender como tornar habitáveis as cidades do futuro.
Sustentabilidade e desenvolvimento são consequências de um conjunto de fatores
Para ser habitável, uma cidade tem que ser sustentável. Mas, afinal, o que seria isso? O Arcadis Sustainable Cities Index 2022 classificou cem cidades do mundo com base em 51 métricas, organizadas sob os três pilares da sustentabilidade: planeta, pessoas e lucro.
Se analisarmos o pilar lucro, por exemplo, as primeiras 19 posições do ranking são ocupadas por cidades dos Estados Unidos. No ranking geral, no entanto, a primeira cidade norte-americana aparece em 7º lugar e são apenas quatro nas primeiras 15 posições. Isso ocorre porque elas, nos pilares pessoas e planeta, não estão tão bem colocadas. O pilar planeta é dominado por cidades europeias, especialmente as escandinavas, onde a preocupação e a prática com o ambiente estão bastante avançadas. Cidades como Oslo, Paris, Estocolmo, Copenhague e Berlin dominam a cena graças aos esforços de inovação e governança em relação à questão climática. No que se refere ao pilar pessoas, também a Europa ocupa as três primeiras posições, mas cidades asiáticas, com evolução em temas como saúde, segurança e uma relativamente baixa desigualdade de renda, vêm ganhando posições nos últimos anos.
São Paulo, a cidade brasileira que figura no ranking, está na 84ª colocação geral. Sua melhor posição, 44º lugar no pilar planeta, é comprometida pelo 94º lugar no pilar pessoas e, assim, nem o 78º lugar no pilar lucro consegue ajudar.
A lição que fica: sustentabilidade e desenvolvimento são consequências de um conjunto de fatores, e tornar as cidades habitáveis para as pessoas é um desafio multifacetado com o qual precisamos lidar. Quando ampliamos o olhar, saindo apenas da questão ambiental ou deixando de focar somente crescimento econômico, temos condições de entender o estágio de desenvolvimento dos locais e identificar oportunidades de melhoria. E disso depende o futuro das cidades e das pessoas.